Ela se perguntava constantemente desde então:
cadê aquele arrepio que me percorria por dentro?
cadê a felicidade fluindo por todo o corpo?
Mas ainda lhe restavam sorrisos de outros que a faziam sonhar novamente e ter a coragem de levantar no domingo de manhã, na segunda de manhã e todos os outros dias. Que a fazia ter vontade de recolher os cacos do que um dia foi você e procurar a sua alma que saiu e só disse adeus.
Uma senhora avisou a menina que o sinal estava aberto e foi só nesse momento que se deu conta de verdade de que já havia acordado, trabalhado meio período e estava nas suas duas horinhas livre, fantasiando e divagando. Fez o pedido de sempre e sentou-se, observando quem passava e imaginando a vida de cada um.
Minhas canetas estão todas espalhadas pela casa e já não sinto mais o cheiro do cuzcuz cozinhando. Mas sinto insistentemente o aperto no peito, porém, diferente daquele que me fazia companhia aos quinze: aquele que descia e subia queimando o esôfago e a alma como um choro ácido indeciso entre sair ou continuar consigo. Esse me deixou.
Ela só queria um empurrão. Colocava a carcaça da coragem, uma coragem pequena, de iniciante, que no tempo cabia perfeitamente. Queria apenas que a cobrissem mais um pouco para que fosse adiante com seus planos feitos tão rapidamente, tão novos. Queria apenas que existisse alguém ali, porque existira um dia.
Bom... ao menos é no que ela supostamente acreditava e o que fazia sentido. E alguém que não essa maravilha que a vida nos proporciona de ser um ser, somente, uma pessoa e nada mais que uma pessoa. Mas mais que isso, uma pessoa se completando, alguém na busca eterna do Grande Talvez e percorrendo a estrada nessa direção.
E foi no último pedaço que o fluxo de pensamentos embaralhados começou a deixá-la tonta.
Ela cansou de ser um vazio completo.
Não existe gramática no mundo, mesmo não portuguesa, que não a deixa aflita.
Não há pôr do sol que a faça sorrir. Só uma capa completa de sono e falta, mesmo tendo tudo.
Aceitação demais?
Tinha alguém aqui, mas essa pessoa resolveu me abandonar apagando a chama que ainda estava acesa na esperança de encontrar todos os objetos designados na busca. As pequeninas coisas a deixavam feliz, só deixem que essas pequenas coisas existam.
Na saída da cafeteria a guria sorriu pra moça do caixa e desejou-lhe com palavras um bom dia. Nada como mais um.
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