segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Massa

Queremos enlatados, prontos para o consumo: na alimentação, na música, na aprendizagem, nos filmes. Aquele enlatado que é simples, prático, mas já feito, sem nenhum trabalho nosso. E se quiser algo mais sofisticado (para o contexto: elaborado) pago para alguém fazer para mim um estudo, uma salada mais fresca. Eis a massa atual.

Números

A gente se preocupa tanto. Pensa tanto, quer planejar, saber o que fazer, ao menos imaginar qual caminho seguir. Busca resolver problemas, até mesmo os que não nos dizem respeito. Almejamos começar já a escrever ápices da nossa história na História, peculiar e insignificante para o Universo (com exceção para a colaboração na poluição e devastação do planeta).

Porém, se olhe no espelho.

Sequer os vinte chegaram. E faltam uma boa quantidade de anos para isso, apesar de "depois dos quinze passar rápido". Tudo bem, passa rápido. E nós nos acabamos querendo viver agora para não chegar aos trinta, quarenta, cinquenta... se arrependendo de não ter feito o que queria enquanto era jovem. Não cometer os mesmos erros de outras pessoas: deixar os instantes passarem.

Somos jovens, tão jovens que é cedo para viver a plenitude e infinidade da existência. Para viver de forma a deixar o mínimo de arrependimentos possíveis. Viver saudavelmente, responsavelmente, adverbialmente bem.

Alguma pessoa com seus vinte e pouquíssimos anos conclui a faculdade e está noiva. Ela é nova, tem toda a vida pela frente, tem projetos, coisas a fazer. Tem todas as oportunidades ao seu alcance, ou capacidade suficiente para aproximá-las de si. Se ela está nova assim, prazer, até ontem era um feto, hoje sou uma criança que almeja, deseja, espera de si (desistiu de esperar dos outros), mas não alcançou a chave para abrir a janela e voar. Só se alcança ela com o tempo, e tenho a impressão de que não há muito que se possa fazer para esse tempo chegar, além de esperar.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Melodia

E essa melancolia desolante
Ao som da melodia mais viva
Da poesia mais guardada
Fujo
Do percurso
Caio na toca do coelho e me escondo
do mundo
de todos
Por trás de sorrisos
A música mais tocante
eu compreendo
e fundo-a
à mim
enquanto palavras
verdadeiras
são transpostas
no vazio
me recolho
Chronos, me ajude
nesse eterno pesar em vida
eu insisto
Mas nada
se iguala
Estar vivo
isso não é suficiente
enquanto o coração bate
luto pela vida
no frio calor da minha mente
não tanto sorridente sempre
espero que permanente
espero que autônoma
e feliz
Quando estranha
e atordoada aparentemente
tornar-me
meu mundo!
Ah, meu mundo
não o arranquem
Eu imploro
não poderei deixar
e ai dessa mente - confusa
se se entregar
ao comodismo da massa
ou à passagem do tempo
Nada acaba, apenas
pode
evoluir
Como um parágrafo
escrito
de um texto
de sílabas
Um todo de uma parte
Impossível. Talvez não
meu coração bate em um disco
fora do meu peito
e as emoções
ganham valor na existência
pois existem, e apenas
evoluem.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Direito

Para, Ana.
É aí que está o erro
Você acredita com pouco
de que tudo está bem
e não, nada é fácil
nada é dado
coisa alguma vem de graça
só uma atitude que leva a todas as outras
conquistas
é de seu direito:
querer,
e quero
a mim
a quem esteja comigo
de verdade

sábado, 13 de dezembro de 2014

Somos pessoas exercendo nosso direito de ser

Se uma mulher tiver uma superioridade específica, por exemplo, uma mente profunda, é melhor ser mantido em segredo. Humor é apreciado, mas profundidade? Não. É a qualidade mais traiçoeira de todas.
Becoming Jane ou Amor e Inocência

Esse é um retrato do pensamento dos séculos XVIII e XIX sobre a posição da mulher na sociedade, e que ainda pode ser visto em atitudes de pessoas de ambos os sexos, séculos depois, mesmo após a invenção da pílula, a conquista do direito ao voto e a introdução da mulher no mercado de trabalho.

Através das interpretações bíblicas pode-se perceber a visão da mulher como submissa, criada para servir e obedecer ao pai, e logo após ao marido, não podendo questioná-los. Como aquela que apenas cuida dos filhos, do cônjuge e administra o lar - se acabou o papel higiênico, se o almoço está quente, se a casa está totalmente limpa porque se não estiver o marido sofrerá ofensas sociais dos outros pois ele não adestrou sua mulher o suficiente para fazer um bom serviço doméstico. Infelizmente, essa é uma ideia que foi bastante difundida nas sociedades, podendo observar que o mundo teve poucas organizações matriarcais, ou igualitárias, como os Celtas.

Assim, o papel da mulher desde o começo da vida humana passou a ser a dona de casa, a que faz tudo para o marido, pois o mesmo não pode lavar as louças ou passar as roupas, porque isso diminuiria sua imagem social de "masculinidade"; inclusive suportar as tantas traições, já que nessa linha de pensamento arcaica e absurda o homem pode trair, mas a mulher não.

Parte dessa cultura ainda é passada para as gerações seguintes quando os pais não dividem as tarefas domésticas igualmente entre filhos homens e filhas mulheres, quando ensinam apenas elas à cozinhar, quando ensinam aos meninos que eles tem todo o direito de "pegar" as garotas, como se elas fossem objetos que os mesmos poderiam possuir e descartar sempre que quisessem. Ainda existem homens que, para casar, não observam o caráter mas o requisito virgindade. Eles já tiveram relações sexuais com todos os tipos de mulheres (as quais consideram fúteis e sujas), sabe-se lá que doenças podem ter por conta disso, não possuem caráter e não respeitam os seres humanos do sexo feminino, mas só casam se a garota for virgem, ou pior, só dão valor à mesma se tiver esse requisito, mesmo que lhe falte os principais para qualquer ser humano.

Filhos homens possuem mais oportunidades, não são tão limitados pois a preocupação é enormemente menorjá que eles não podem voltar com uma barriga maior que o normal para casa por conta de uma gravidez - o que, hoje, é equivocado pois o rapaz tem de arcar com as despesas e a criação se tiver um filho -; já que eles no meio social não são vítimas de comentários maldosos com os piores palavreados se alguém difundir o fato dele ter feito sexo. A bonequinha princesinha do papai e da mamãe é sempre o alvo.

O filme fracês Después de Lucía simboliza bem o preconceito e a segregação desde a adolescência. Dois jovens se conhecem e fazem sexo logo, a mulher é a que sofre até mesmo torturas por isso. É a que vai ser acusada de não ter "valor". É a que vai aguentar xingamentos, mesmo quando um vídeo dessa relação é gravado e difundido não por ela, mas por algum rapazinho que se acha no poder. Enquanto que o homem pode fazer o mesmo com várias em uma mesma noite, mas terá, apenas, sua imagem social de masculinidade fortalecida.

O que pode-se perceber através de registros escritos de sociedades passadas e relatos cinematográficos verídicos de mulheres que vivenciaram esse preconceito, é que elas eram bonecas de porcelana, peças de um jogo social e financeiro, objetos dos homens e das famílias. Ou seja, não um ser humano, mas uma escrava, que era vendida por dotes e obrigada a servir, sem voz, sem autonomia.

O filme Amor e Inocência retrata a vida da escritora Jane Austen, e através dele é possível ver o que ela sofreu por não aceitar um casamento que traria muito dinheiro para sua família pobre. A quantia não seria para ela, mas sim para seus parentes; o que estava em jogo não era a Jane, como pessoa, mas a filha adorável que foiesplendidamente felicitada com um convite de casamento irrecusável. Ao visitar uma escritora, a mesma diz para Jane que não é possível ser uma boa esposa e uma boa escritora. O senhor Lefroy, o rapaz por quem a senhorita Austen se apaixonou (reciprocamente) seria advogado, apesar de não querer, e viveria disso; Jane não poderia viver da escrita, tanto por não ser um meio seguro economicamente, quanto por ela se sustentar sozinha, o que parecia impossível e um disparate. No livro Senhora, de José de Alencar, há uma passagem onde a personagem Aurélia é mandada pela mãe para ficar na janela, o que aumentaria sua chance de achar um pretendente, única ocupação da garota.

Na Pré-História e na História Antiga têm-se dados de que as sociedades eram matricêntricas, ou seja, a mulher não dominava, mas era o centro social por conta da sua fertilidade. Isso mostra o quanto o ser humano consegue ser extremista, pois a mulher não é o único símbolo de fertilidade assim como o homem não é o único símbolo de liderança. Ambos administram, ambos lideram, ambos são importantes e é necessária a participação de ambos para que um novo ser nasça. Na civilização Romana a mulher era valorizada, juntamente com a família, como uma base fundamental, e o trabalho doméstico uma virtude. A situação feminina só se expandiu para profissões na Idade Média.

Se hoje nós, mulheres, podemos votar, ter participação política, trabalhar, e, com sorte, ter um casamento onde ambos administrem o lar em parceria, foi graças à luta de muitas outras que deram "a cara a tapa" para conseguir fugir de parte desses paradigmas, e são homenageadas no dia 8 de março, dia esse que não homenageia o fato das mulheres usarem salto alto, maquiagem, sutiã e suportarem o sangramento menstrual mensal, como muitos meios midiáticos divulgam. Parte disso são desafios da natureza que nos foram impostos, e são mínimos perto dos olhares tortos e das agressões físicas e psicológicas que muitas suportam ainda hoje.

Direitos femininos vem sendo conquistados desde os séculos XVIII e XIX: direito ao voto, divórcio, educação e trabalho. Nos anos 1960, com a liberdade sexual ligada ao uso dos contraceptivos. E nos anos 1970, através da luta por igualdade de trabalho, essa que ainda se faz presente.

Nas antigas sociedades mediterrâneas, a mulher vivia uma condição legal limitada e sem direitos políticos. Foi a partir do século 18 que se começou a falar em reivindicação dos direitos da mulher [...] Ainda no século 19, no contexto da Revolução Industrial, o número de mulheres empregadas aumentou significativamente, iniciando um período de longas jornadas de trabalho nas fábricas, mas com os salários significativamente mais baixos em comparação aos homens. Foi a partir desse momento que o feminismo se fortificou como um aliado do movimento operário e em busca de melhorias trabalhistas. 
Direitos femininos, uma luta por igualdades e direitos civis. UOL Vestibular

Greves foram realizadas em Nova York em 8 de março de 1857 e 25 de março de 1911, fortemente reprimidas, e na Rússia em 8 de março de 1917, fatos que ajudaram a instituir esse dia como o Dia Internacional da Mulher.

Sim, hoje a mulher pode votar, governar países, se inserir no mercado de trabalho, escolher quando ter filho, quando casar, Porém, ainda existem famílias retrógradas que não dão tais permissões e as segregam pelo sexo. Homens que se acham donos e agridem mulheres física e psicologicamente. Ainda há culturas onde pessoas do sexo feminino que optam por não casar e são autossustentáveis, ou escolhem ter filho solteiras, recebem ofensas de várias formas, mesmo da família, o que torna a situação ainda pior.

Portanto, não é ser superior o objetivo das mulheres, mas sim serem respeitadas, ouvidas, donas de si mesmas. Há quem reclame e considere algumas situações que defendem a mulher como "privilégio", mas na verdade os únicos privilegiados durante toda a História foram os indivíduos do sexo masculino. A escravidão física pode ter acabado, mas a psicológica infelizmente ainda perpetua, e elas querem quebrar estas correntes que as mantem presas a regras ridículas, arcaicas, fúteis e prejudiciais. Então, com licença, que nós, mulheres, queremos passar e conquistar nosso espaço como seres humanos. Os primeiros passos foram dados, mas ainda estamos longe da igualdade.

G1 – Um dos destaques da música brasileira de 2014 é Valesca Popozuda. Ela diz que 'ser vadia é ser livre'. Você concorda? Vê um paralelo entre o seu trabalho e o dela?
Pitty – Entendo totalmente o que ela quer dizer com essa frase. É um pensamento que tem a ver com ideais feministas. Uma "vadia", perante essa sociedade machista, é uma mulher que usa saia curta ou decote e por isso "tá pedindo", que ousa sair sozinha, que anda nas ruas a noite, que comete o disparate de emitir opiniões, que fala sobre e gosta de sexo. Ou seja, uma mulher livre. Se para esse sistema patriarcal, ter direitos sobre o próprio corpo e a própria vida é ser "vadia", então, somos todas vadias. O paralelo que vejo entre nossos trabalhos é esse: somos mulheres exercendo o direito de ser.
Entrevista da Pitty ao G1 

Propaganda criada durante a Segunda Guerra Mundial, símbolo das mulheres que foram trabalhar nas fábricas substituindo os homens.
Link para a publicação do texto no blog transgressão.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Enjoy the little things

Nas pequenas coisas
Nos mínimos detalhes
Meros instantes
"Irrelevantes"
Passageiros, efêmeros, fugazes
Marcantes
Inspirados em palavras soltas
Isoladas
Que se encontraram
E a poesia se fez
Estrada
Caminhos, meios
De quebrar esse sistema
De retas e repetições
E exaltar a forma
Dessa música
Que nos compôs

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Freio

O tempo corre
Vai-se embora
Leva a vida
Conduz a hora
Deixa dor
Talvez rancor
E traz, principalmente...

O arrependimento de tê-lo deixado apenas passar, por medo.
Meu coração pede
Uma datilografia
A fim de expor
Essa alma
Que pede
Implora
Ressalta
Que deseja
Um silêncio
Uma chuva
Um frio
Um respirar
Um café
E uma boa conversa
Em meio aos cacos
Aos pedaços
Ao confuso
Jeito de ser
De existir
De viver
Que foi implantado
Deixado
Jogado
E hoje está assim
Perdido
Encontrado
Ciente
Gente
Humano.