segunda-feira, 30 de março de 2015

Pontos

Uma bússola
Só quero uma
Para encontra
Em papéis rabiscados
Mais que a ausência de luz
do mesmo poço que insiste em tentar
trazer à tona
o vazio, a ausência
a infelicidade da tristeza
de não ser alegre
na incompreensão do estar
do sentir, do fazer
no conflito entre existir
enquanto estrelas iluminam
sem ao menos iluminar
e descer
          escada
                 abaixo
enquanto almeja

segunda-feira, 9 de março de 2015

Casa

Vivo de versos inacabados
vivemos de lembranças
de notas não bem tocadas
no limite entre a alegria
e a tristeza
na simplicidade de palavras tão carregadas
tão cheias de tudo
e ao mesmo tempo vazias de um nada
existimos na presença
de amores incompletos de você
e você incompleta de amor
no meio de tanto vazio

sem desculpas

nenhuma desculpa lhe cabe

recebe a responsabilidade da vida ser toda sua
completamente puramente sua
nenhum caos, nenhuma alegria é advinda
que não seja pela permissão que tu deste
a não ser quando invade
e quebra tudo
deixando apenas uma casa abandonada
para você cuidar

no meio do mar
no barulho das águas a se movimentar
uma casa em falso
um teto flutuando
e a brisa fresca tocando na pele
da criança confusa que foste um dia
do ser que passou pelo tempo e que se tornou o que és hoje

porém, sem olhar para o passado, apenas o instante
o agora, apesar de formado por lembranças
pelos erros, pelas decepções
seu, todo seu
todas as falas, todos os instantes à sós
principalmente todos os momentos de perceber e aceitar fatos e pessoas
de desligar deles suas quedas
não lhes pertencem
estão contidas somente
em ti
esse papel na tal peça
é totalmente teu

só não te force a carregar com sorrisos
mais do que pode carregar
não forces nada
mais do que permite
os sorrisos e as tristezas
também são totalmente seus
e dos poucos que tiveram coragem suficiente
para compartilhar dos mesmos
contigo

domingo, 1 de março de 2015

seu universo

fonte: tumblr
Seu mundo. Era cheio de ansiedades e expectativas que na maioria das vezes foram jogadas no lixo como sacolas plásticas. Poderiam ser reutilizadas, mas irão ficar entulhadas na memória de quem um dia as teve, e as viu partir sem serem realizadas. Um universo com mais confusões que qualquer trama já criada por outro ser confuso. Retraído, tímido, extrovertido por fora enquanto se procura como essência por dentro. Repleto de medos: de errar, de não ser bem compreendido ou de simplesmente não ser aceito. Ele vivia em conflito com o mundo além do seu, onde o seu jeito não coincidia com os dos demais, mas isso era bom, pois o que era de sua admiração, era somente seu. E ruim, porque a solidão também era toda sua. Ele vivia, contudo, vivia com medo de escrever e sair ruim. E sempre via algo ruim exposto em um papel. As conjunções repetidas, as mesmas palavras utilizadas inúmeras vezes seguidas, que falta de vocabulário.

Ao mesmo tempo, se olhava no espelho e via. Enxergava que ali dentro havia um cosmo que se inspirava em imagens e fazia delas um algo a mais. Que sofria com si e por si, muitas vezes só, tentando encontrar sentido nas pequenas coisas que encontrava na lixeira da mente da maioria. Visualizava os pedaços que lhe compunham, que foram repostos com uma pele diferente, porque a mesma já não lhe cabia mais. E entendeu que não haviam respostas, haviam ponteiros de relógios em várias partes do mundo que tiquetaqueavam, e que havia um relógio desses para ele encontrar, em uma torre, em algum lugar do planeta onde poderia, pela primeira vez, ver o seu mundo fora de si. Uma rua em que poderia, pelo primeiro instante, sentir que parte do seu pequeno universo estava ali, presente nas pessoas que continham também os seus.

Um dia decidiu tentar desamarrar os laços, desatar os nós, vestir-se de si, calçar os sapatos e ir, mesmo se preciso fosse ir só.