domingo, 27 de dezembro de 2015

Suposta lista de livros para dois mil e dezesseis

Metas não são o meu forte, mas estamos aqui para melhorar os pontos fracos, certo? Certo. É interessante aprender a cumpri-las a fim de atingir nosso objetivo. Então decidi separar para o próximo ano alguns livros que me proponho a ler:

O amor nos tempos do cólera (Gabriel García Marquez)
Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá se apaixonou por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da moça, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse. Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi ponto de partida de "O amor nos tempos do cólera", que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza.
O Hobbit (J. R. R. Tolkien)
Bilbo Bolseiro é um hobbit que leva uma vida confortável e sem ambições, raramente aventurando-se para além de sua despensa ou sua adega. Mas seu contentamento é perturbado quando Gandalf, o mago, e uma companhia de anões batem em sua porta e levam-no para uma expedição.
Orgulho e Preconceito (Jane Austen)
A jovem Elizabeth Bennet, que se julga desprezada por Darcy, jovem rico e orgulhoso, começa a se interessar pelo belo militar Wickham. Em lugar do simples enredo sentimental, o texto de Austen focaliza uma questão mais complexa em que se misturam a razão, o sentimento de gratidão e suas implicações e, especialmente, a desconfiança com relação às primeiras impressões.
 Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
Publicado em 1881, "Memórias póstumas de Brás Cubas" é um dos mais famosos romances de Machado de Assis, um marco na literatura brasileira. Narrado por um defunto autor, uma voz irônica que se dirige constantemente ao leitor, a trama começa com o enterro de Brás Cubas, passa por seus delírios, volta à infância do personagem e, de forma nada linear, traz para o centro da cena vários episódios da vida desse excêntrico narrador.
Perto do coração selvagem (Clarice Lispector)
A vida de Joana é contada desde a infância até a idade adulta através de uma fusão temporal entre o presente e o passado. A infância junto ao pai, a mudança para a casa da tia, a ida para o internato, a descoberta da puberdade, o professor ensinando-lhe a viver, o casamento com Otávio. Todos estes fatos passam pela narrativa, mas o que fica em primeiro plano é a geografia interior de Joana. Ela parece estar sempre em busca de uma revelação. Inquieta, analisa instante por instante, entrega-se àquilo que não compreende, sem receio de romper com tudo o que aprendeu e inaugurar-se numa nova vida. Ela se faz muitas perguntas, mas nunca encontra a resposta.
A sombra do vento (Carlos Ruiz Zafón)
Numa madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um misterioso lugar no coração do centro histórico:o Cemitério dos Livros Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade. A busca por pistas do desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em homem ao iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura. 
Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei (Paulo Coelho)
Em toda história de amor sempre existe algo que nos aproxima da eternidade e da essência da vida, porque as histórias de amor encerram em si mesmas todos os segredos do mundo. Pilar é uma jovem do interior da Espanha com muitos sonhos frustrados. Quando um amigo de infância volta a entrar em contato, ela se surpreende ao descobrir que seu primeiro amor se tornou um líder religioso e é reverenciado como milagreiro. Ao se reencontrarem, porém, ambos são unidos por um único desejo: o de tornar seus sonhos realidade. Para isso, têm que vencer muitos obstáculos interiores, como o medo da entrega, a culpa e o preconceito. Numa peregrinação espiritual através das montanhas dos Pireneus, os amantes trilham o árduo caminho do reencontro com as próprias verdades. Neste livro Paulo Coelho nos oferece uma parábola sobre o amor que transcende todas as coisas. O romance é ao mesmo tempo uma lição de vida e um convite para seguirmos o verdadeiro caminho do coração e vencermos nossos medos.
Coraline (Niel Gaiman)
Coraline acaba de se mudar para um apartamento num prédio antigo. Seus vizinhos são velhinhos excêntricos e amáveis que não conseguem dizer seu nome do jeito certo, mas encorajam sua curiosidade e seu instinto de exploração. Em uma tarde chuvosa, consegue abrir uma porta na sala de visitas de casa que sempre estivera trancada e descobre um caminho para um misterioso apartamento 'vazio' no quarto andar do prédio. Para sua surpresa, o apartamento não tem nada de desabitado, e ela fica cara a cara com duas criaturas que afirmam ser seus 'outros' pais. Na verdade, aquele parece ser um 'outro' completo mundo mágico atrás da porta. Lá, há brinquedos incríveis e vizinhos que nunca falam seu nome errado. Porém a menina logo percebe que aquele mundo é tão mortal quanto encantador e que terá de usar toda a sua inteligência para derrotar seus adversários.
Além desses, quero continuar/começar as sequências de algumas histórias:

  • Harry Potter. Depois de ter passado umas semanas procurando na cidade toda o segundo volume e acabado pedindo-o pela internet, ainda não o li.
  • O Mochileiro das Galáxias. A escrita do Douglas Adams parece ser gostosa e ele aparenta abordar a sua história amplamente. Já tenho dois volumes, o suficiente para começar.
  • Os Heróis do Olimpo (também conhecido como continuação de Percy Jackson e Os Olimpianos), um caso enrolado e incerto. Demorei muito para terminar o primeiro volume e o segundo está ainda mais complicado de terminar, meu cérebro não aceita parar a série no meio do caminho (ainda mais no meio de um dos livros) mas, pior que isso, é concluí-la forçadamente, então muito provavelmente vão esperar mais uns meses.
  • Por último, temos As Crônicas de Gelo e Fogo com suas meras quase 600 páginas. Livros grandes são bons de empacamentos que duram meses. Comecei A Guerra dos Tronos há mais de um ano, li por uns dois meses e parei. Atualmente está tão enrolado quanto a segunda sequência do Percy Jackson.

Termino essa lista parafraseando a observação 3 da meta literária de 2015 da Beatriz: se as coisas forem dando errado na vida, ainda terei meus livros.

PS.: Lista passível de mudança, algo bem provável, todavia, pensei bem nos títulos aqui listados, o que diminui as chances.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Uns achados (de texto à vídeo)

Que escrita linda a Patrícia tem. Quando gosto do blog tenho o costume de ler desde as postagens mais antigas e, no caso dela, desde o blog antigo. E encontro, além de boas tirinhas (das quais falarei mais adiante), textos que inspiram a vida - como o livro dela. Esse é um texto carinhoso no qual ela fala sobre seus pais e sobre quando teve que sair de casa.
Mantra: ousemos perturbar, bem como respeitar, o silêncio, preenchendo-o com palavras. Boas palavras.
And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
Conheci as tirinhas desses rapazes no antigo blog da Patrícia (a companhia da semana, na anterior foi o 5vlogueiros). São feitos com carinho tanto pelo desenho quanto pela temática, que te fazem pensar.





Outra descoberta da semana foi o amor por ler bons textos em bons blogs. É tão bom conhecer um blog novo, bem como um canal novo, e mergulhar nos arquivos para ler/assistir os antigos e passar a acompanhar.

Essa páginas possuem algo que acredito que os aplicativos exclusivos roubaram: a acessibilidade e a importância da mensagem. Basta ter internet e um meio como um celular ou um computador para acompanhar o que a pessoa tem a dizer. Uma rede social pode ser boa, mas tende a surgir outra na semana seguinte que faz a anterior ser esquecida (ainda bem que o twitter não foi esquecido). Nem todas as pessoas possuem Instagram e Snapchat, e deixam de ler os escritos de alguns blogs mais antigos porque os que escreviam migram para os aplicativos passageiros.

Meu espírito de idosa particularmente defende mais os sites e as redes sociais que se tem acesso mais facilmente, bastando a internet, do que algo mais privado. Todavia, é uma inovação que tem destacado pessoas da área da informática. Eis o paradoxo do desenvolvimento e o encurralamento do capitalismo.

Palavras e seus poderes

Eu quero paz

Quero pegar um sol
respirar um ar
suspirar de alívio
sorrir por um momento de alegria
e dormir a noite seguinte mais leve

Eu quero amar

Quero amar a vida
nem que seja no final
daquele dia difícil
e ver no rosto de quem me deu a vida
sorrisos sucessivos de satisfação

Eu quero conquistas

E, se preciso for, aceito sim os fracassos
desde que cada tropecinho me ajude
a enxergar melhor o horizonte quando levantar

Eu quero mais

Quero mais coragem e determinação
e, principalmente, sintonizar minhas palavras
com o Universo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Pessoalmente falando sobre o ano que acaba...

...ou a segunda chance do mundo para todo o mundo

Querendo ou não o fim do ano chegou, restando menos de uma semana para o natal e mais uma para o ano novo, ou seja, hora pro mundo fazer as suas tantas retrospectivas literárias, pessoais, reflexões, melhores e piores, listas e mais listas.

Esse ano foi bem estranho. Depois de tanto tempo inclusa em uma bolha, da qual ainda não sai, de segurança e muita confusão - pense em uma pessoa indecisa e que pensa quase compulsivamente - vi mudanças de perto. E, sabendo que elas iriam começar a chegar, comecei a me desprender da rotina que vinha me acompanhando todo esse tempo. Não que rotina seja algo ruim, é bom e ainda estou buscando o equilíbrio. Mas estar sempre acostumado a mesma faz com que mudanças tragam um medo e uma ansiedade maiores do que o necessário.

Parar para pensar que nós somos uns seres no meio do Universo e que o tempo é algo único, contínuo e um presente constante que convencionamos dividir dessa maneira é tão perturbador quanto pensar que os recursos naturais estão esgotando e que temos a capacidade de ser intensamente estúpidos . De qualquer forma, esse é um momento que me preenche de uma forma confortável. Gosto das comidinhas de Natal, do clima que esse período possui, mesmo que os meus natais não tenham sido as coisas mais elaboradas do mundo. Reunir família e amigos nesse período, noites decoradas, boas conversas, filmes juntos, deve ser tudo de bom. Além de, ao menos nesses dias, podermos parar para pensar na nossa vida e em nós. É quando o mundo para para dar uma segunda chance a todo o mundo.

Mas vamos falar do ano. Em dois mil e quinze chegou o momento em que sairia da zona de conforto e agora eis a necessidade de despertar para a vida que agora é guiada por mim. Não há mais matrícula automática no fim do ano pra série seguinte. Vi as semanas voarem com tanta pressão e coisas para estudar, tendo plena consciência que esse ano foi uma prévia dos próximos. Sem querer tratar de assuntos pessoais, já tratando: cortei o cabelo quase no queixo (imagina um palmo de cabelo a menos), conclui o colégio, fiz as provas do vestibular, completei dezoito anos de muita indecisão e dei entrada na autoescola sem a menor noção de como vou conseguir dirigir.

Um adendo: admiro muito uma família equilibrada onde há muito amor e as pessoas conseguem viver em paz, tranquilidade e unidas. Não tem coisa mais linda que isso, mesmo com o que a vida me mostra, a nossa fragilidade e os bons tapas na cara que ela gosta de dar. Vida adulta é complicada e é bom saber logo disso antes de entrar nela.

Apesar disso, alguém querido falou algo que servia como um abraço em um momento difícil: nos dias em que a situação apertava e ele estava lá, nervoso, com sono e cansado, como todos, eu sorria. Simplesmente abria um bom sorriso em sua direção pra amenizar a sua agonia e a minha quando não havia mais paciência e terminávamos rindo entre uma aula e outra, um pouco mais leves. São essas pequeninas coisas que amenizam nossa dor. Pra tentar trazer um pouco de alegria e esperança, o que ultimamente tem tirado umas férias. Que sempre carreguemos esse sorriso que eu, sem perceber, entregava para esse amigo.

Aprendi que somos fortes e humanos, e é possível ser as duas coisas juntas. Às vezes enfrentamos um problema sem derramar uma lágrima. Outras só queremos nos esconder dentro de nós mesmos, sem falar nada e deixar as lagrimas rolarem. Vão existir dias em que teremos que nos encontrar com a nossa dor e a dor de quem é importante pra nós, e isso nos fará crescer (espero).

Li tão pouco esse ano. Brevemente falando sobre a literatura na minha vida decidi em um momento que iria ler mais. Procurar mais obras, comentários sobre elas e ler tanto por diversão, preencher os dias, a vida e a mim, quanto para ter mais exemplos de vida, de pensamentos e aprender. Admiro como a palavra pode mudar, transmitir, encantar.

Continuo, como creio que muitos, sem saber como será o próximo e os outros anos. Mas estamos aqui para viver assim, com mudanças e incertezas, certo? Certo. Nem tudo é possível planejar, listar, apesar de listas serem muitos importantes, mais importante é estar intimamente ligado a si mesmo. É isso que vai nos fazer levantar todos os dias e possuir cada um.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Preciso

Tem dias em que tudo o que você
precisa
é ter a janela fechada
e ouvir do lado de dentro
com a sua melhor companhia, a chuva
que escorre pela janela

Tem dias em que tudo o que você precisa
é de mais dias de silêncio
e ouvir e não escutar as tantas
que tantos
falam da boca pra fora
e respirar, e parar

Tem dias em que tudo o que você precisa
é atender ao pedido do seu âmago
de buscar a paz e não rebater
de sentir a ânsia do grito subindo o esôfago
e querendo que você jogue fora

E grite, externe, revele
Expire, respire, se faça um verbo

Grite a liberdade e externe
O medo
Do preso, da corrente

E supere e seja
E veja
No momento, liberte-se
Na sua paz, faça o seu mundo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Tinha alguém aqui

Ela se perguntava constantemente desde então:
cadê aquele arrepio que me percorria por dentro?
cadê a felicidade fluindo por todo o corpo?

Mas ainda lhe restavam sorrisos de outros que a faziam sonhar novamente e ter a coragem de levantar no domingo de manhã, na segunda de manhã e todos os outros dias. Que a fazia ter vontade de recolher os cacos do que um dia foi você e procurar a sua alma que saiu e só disse adeus.

Uma senhora avisou a menina que o sinal estava aberto e foi só nesse momento que se deu conta de verdade de que já havia acordado, trabalhado meio período e estava nas suas duas horinhas livre, fantasiando e divagando. Fez o pedido de sempre e sentou-se, observando quem passava e imaginando a vida de cada um.

Minhas canetas estão todas espalhadas pela casa e já não sinto mais o cheiro do cuzcuz cozinhando. Mas sinto insistentemente o aperto no peito, porém, diferente daquele que me fazia companhia aos quinze: aquele que descia e subia queimando o esôfago e a alma como um choro ácido indeciso entre sair ou continuar consigo. Esse me deixou.

Ela só queria um empurrão. Colocava a carcaça da coragem, uma coragem pequena, de iniciante, que no tempo cabia perfeitamente. Queria apenas que a cobrissem mais um pouco para que fosse adiante com seus planos feitos tão rapidamente, tão novos. Queria apenas que existisse alguém ali, porque existira um dia.

Bom... ao menos é no que ela supostamente acreditava e o que fazia sentido. E alguém que não essa maravilha que a vida nos proporciona de ser um ser, somente, uma pessoa e nada mais que uma pessoa. Mas mais que isso, uma pessoa se completando, alguém na busca eterna do Grande Talvez e percorrendo a estrada nessa direção.

E foi no último pedaço que o fluxo de pensamentos embaralhados começou a deixá-la tonta.

Ela cansou de ser um vazio completo.

Não existe gramática no mundo, mesmo não portuguesa, que não a deixa aflita.

Não há pôr do sol que a faça sorrir. Só uma capa completa de sono e falta, mesmo tendo tudo.

Aceitação demais?

Tinha alguém aqui, mas essa pessoa resolveu me abandonar apagando a chama que ainda estava acesa na esperança de encontrar todos os objetos designados na busca. As pequeninas coisas a deixavam feliz, só deixem que essas pequenas coisas existam.

Na saída da cafeteria a guria sorriu pra moça do caixa e desejou-lhe com palavras um bom dia. Nada como mais um.

Presente, Agora, como quiser chamar

Pense sempre positivamente. Não tem coisa pior que passar por tantos momentos mais difíceis e ter isso nos afetando intensamente. Um sorriso no rosto - como já falei várias vezes - vale muito e transforma um dia ruim com a positividade de, no início da noite, sentar e ver um bom filme ou fazer algo que te deixe feliz e te faça sentir aquele calafrio de felicidade por dentro.

Pense sempre no presente. Se martirizar por coisas passadas ou viver sempre em função de um futuro que não é nada mais que resultado do instante em que você está lendo isso aqui, além de causar transtornos de ansiedade como síndrome do pânico, agorafobia e transtorno de ansiedade generalizada, impede de estar feliz.

Não há felicidade constante e inabalável porque somos humanos e temos nossos momentos específicos ao longo da vida, todos importantes, mas há alguns períodos em que nada nos tira a alegria e a serenidade, e esses são preciosos para suportar os mais complicados.

Existem mensagens que devem ser lidas, relidas, devem ser uma iluminação na primeira leitura, repensadas depois, e, às vezes, subitamente apenas aparecer no nosso dia porque são coisas simples, mas que fazem uma diferença enorme e devem ser bem armazenadas na nossa memória.
Para o sábio toda culpa é um estado em que estamos perdidos no passado.
Toda ansiedade é um estado em que estamos perdidos no futuro.
O passado enquanto memória não o empurra, e o futuro enquanto expectativa não o puxa.
Seu presente inclui o passado e o futuro e não existe nada fora dele que não possa exercer um puxão ou empurrão.
Ele claramente não está dentro do tempo, pois todo o tempo está nele.
Autor desconhecido, fonte Camile Carvalho

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Cultivo

"O tempo é cortado em retalhos pra que a gente possa costurar só aqueles que nos fazem bem."
Trecho de Seu Moço, Patrícia Pirota.

Escrever é um suspiro. Às vezes é gritar aquilo que estava guardado. É expressar pro mundo o que rodopia dentro de você, em verso, em prosa, em linhas desorientadas buscando aliviar as intempéries do mundo e das pessoas - sejam elas próximas de ti ou não.

Nem preciso comentar os acontecimentos das últimas semanas no mundo. E existem momentos em que seguimos nossas vidas normalmente devido à "distância" que possuímos daquele lugar, porém, não daquela situação. São vidas envolvidas e quando olhamos pras nossas e pros nossos problemas, principalmente quando eles são grandes, é possível perceber o quanto um problema grande e significativo pode nos afetar, pode mudar nosso dia, nossa visão das pessoas e do mundo, e nos fazer chorar.

Os últimos escritos que coloquei aqui falavam disso: da visão do mundo, do preenchimento de nós mesmos e da nossa vida. Um entardecer visto do alto pode ser a coisa mais bela, um amanhecer com quem você ama pode ser a coisa mais tranquilizadora. Um abraço e um sorriso sincero salvam uma semana...

Mas não podemos deixar de notar que existem indivíduos que vivem para transmitir rancor, que cultivam a ausência de harmonia, a falta de sorriso, a raiva constante com tudo e com todos e tornam qualquer ambiente desconfortável. São essas pessoas com as quais temos que conviver muitas das vezes e que tentam deixar cinza o nosso pôr do sol, fazendo rolar as lágrimas presas.

Esses dias estava relembrando sem ser proposital um período da vida onde não notava tão claro problemas de outras pessoas ao redor que poderiam me influenciar e o quanto, hoje, esse período foi significativo pra mim por quem estava nele, pelo ambiente onde eu estava - as aulas na escola, os professores e nossas conversas, o dia da semana em que havia contra-turno e passava praticamente o dia no colégio e era a coisa mais incrível. Hoje olho e sinto saudade de gente que estava comigo nessa época e hoje está longe (professoras queridas Rejane e Graciene). Eis a questão: o hoje pode ser visto dessa mesma forma, como um incômodo hoje que amanhã se torna uma boa lembrança por coisas pequenas que estiveram ali como um pôr do sol, uma companhia, um livro, uma pessoa de exemplo.
Seu Moço,
[...]
Descubra o que te faz bem, e encha sua vida disso.
Assim, sem perceber, o escuro vai ficando pequeno, e você já não cabe mais nele.
Ilumine-se com um sorriso por vez.
Paciência é uma necessidade, pequeno gafanhoto. 
Quando espiamos fora da nossa caixinha essas coisas acontecem. Escrevemos o que não imaginamos que sairia, reconhecemos momentos e notamos: o que nos inspira, o que nos faz sorrir, o que nos faz sentir uma alegria interior.

Minha mãe e meu irmão, minhas bases, meu porto seguro. A Tati Feltrin e seus vídeos de literatura me inspiram, a Bárbara Matsuda que me fez ver a leitura de uma forma mais descontraída e, junto com a Tati, conhecer as bandas que ouço nesses anos; o Cadê a Chave? que me faz sorrir; os livros que li quando criança, as aulas no colégio, as conversas com os professores, o Labirinto do Fauno, a Terra-Média e a primeira viagem que fiz são recordações que guardo e que confortam esse coração. As boas mensagens que o Seu Moço e a Patrícia Pirota transmitem me lembram que a vida vale à pena.

Infelizmente existem aqueles que plantam desgosto, que entregam suas vidas por atitudes alheias e não cultivam palavras de carinho, amor e paz, mas palavras ofensivas e agressivas. Essas pessoas não merecem a nossa atenção porque é isso que elas querem e é disso que precisam, não merecem nosso tempo ouvindo e dando importância pra essas palavras que mereciam estar no lixo.

Mas que nós não nos esqueçamos: uma ida ao cinema, ao teatro, uma conversa, um abraço, um sorriso sincero, essas coisas em boas companhias são o que fazem tudo isso mais bonito. Às vezes só fazer o outro feliz deixa o nosso dia melhor. Existe um universo dentro de cada mente, de cada pessoa, que não pode ser esquecido, nem confundido com um abismo.


Trechos citados e foto: livro (belo) Seu Moço, da Patrícia Pirota.

Sound Of Silence



Ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio...

domingo, 13 de dezembro de 2015

Um poema no meio do Brasil

Nesse ano que está terminando me inscrevi no Concurso Nacional Novos Poetas. Foram 3.012 inscritos e 250 classificados. Esses tiveram seus poemas publicados, pela editora Vivara, na Antologia Poética, Prêmio Sarau Brasil 2015, e eis que alguém apareceu na lista...


...mais especificamente na página 33 do livro com o poema Posso, que não se encontra aqui, mas está no Recanto das Letras.

Apesar de não estar escrevendo tantos poemas ultimamente - parece que estou conseguindo voltar a escrever em prosa - é bom ver uma coisa que você fez conquistar algo assim. A palavra é um suspiro e uma luz no meio dessa vida.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Enjoy

Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente.
Quem é você, Alasca?
Cada instante é aquele único instante e nada mais. Toda a nossa existência se baseia em "agoras", no presente sempre constante, na criação de outras divisões: do passado atormentador e da ansiedade com o futuro. Na relatividade do tempo que um adolescente possui demorou, mas completei os dezessete anos em um piscar de olhos e no próximo já tinha feito dezoito, realizado as provas do vestibular, provado vinho e concluído o colégio.

Existe a maior infinidade de personalidades, umas vivem o carpe diem enquanto outras são mais regradas, e consegui colocar essas duas variações em pouco tempo em mim, no fundo na minha filosofia de não deixar passar oportunidades para poder emitir opinião através da vivência e encontrar as situações que me deixavam confortável. Enquanto isso, um manto surgiu repetindo que eu não podia errar. E repetindo que podia ter feito melhor, podia ter tido mais foco, gastado menos tempo com horas a fio vendo fotografias no Tumblr e lendo esporadicamente. Podia ter feito mais com o tempo ou simplesmente nada, apenas senti-lo com um chá, café, qualquer coisa. Ele, o tempo, me atormentava, me perseguia, cada minuto que passava no relógio do microondas. Eu podia ter visto mais filmes e pesquisado mais sobre cinema. Passei a tentar consertar algum erro perdido ali atrás e me perdendo ainda mais.
Seu Moço,
Às vezes, quando pensamos que estamos perdidos, é porque encontramos quem realmente somos.
E, de tão estranhos, não nos reconhecemos. 
Patrícia Pirota 
E passou, apesar de ainda nova e de não querer ficar remoendo a pasagem do tempo, insisto em olhar para trás e achar que houve tanto tempo perdido e desperdiçado gasto à toa, sem investimento, na espera de algo que até hoje não sei o que é.

Acredito na importância e no valor que cada período possui, justamente por isso a gente faz como o Seu Moço: pega o medo, a insegurança e o futuro branco e incerto, coloca no bolso e vai em frente. Ainda há tempo. Não fiz/estou fazendo terapia como a Beatriz, mas sinto a mesma necessidade de crescer e, infelizmente, a ansiedade foi o que me acompanhou até aqui, na espera de um amanhã esquecendo de que faço ele agora e de dar mais atenção a minha construção. Você anseia, anseia, pensa compulsivamente e só. Por enquanto, minha terapia é um caderno todo rabiscado de pensamentos.

Só não vamos dar passos para trás. Atenda a esse pedido desesperado de escrever o que surge repentinamente, ouça o seu corpo, converse com ele, e siga sua mente. Olhe para a frente sem tentar repetir o que fez com tamanha perfeição que colocou na sua cabeça existir e não mais conseguir repetir. Mantenha a coluna ereta, a mente aberta, calma, tranquila, se permita sonhar, e viver os momentos sem pressioná-los. Nem tudo é traçado em uma lista. Agora é a hora de sonhar, arriscar e ler o que eu queria ter lido, e ver o que eu queria ter visto, e ir atrás de mim. Menina, você consegue.


A propósito, esse texto da Beatriz (novamente ela, porque estou em um caso de amor com o deixa molhar) diz muito sobre o que tentei escrever nessa confusão aqui.

domingo, 29 de novembro de 2015

minhas engrenagens

Então transformei nisso aqui aquilo que era transportado pelo fluido existente em mim como ser humano, como mente. Olhei a lista de contatos: pra qual amigo falar? algum ouviria e entenderia todo esse processo que só faz sentido na minha cabeça?

Nós somos muito influenciados pelas nossas experiências de infância (é algo assim que tá na sinopse de O Oceano no Fim do Caminho, né?) querendo ou não, de forma boa ou ruim. A atriz Glória Pires entrevistada em um programa ontem (adoro entrevistas, dá pra tirar uns bons exemplos muitas das vezes) falou que viveu em um lar com muito companheirismo entre seus pais, ela sempre se mostrou muito segura de si e disse que isso foi graças a esse ambiente que ela tinha em casa. O Tico Santa Cruz publicou algo recentemente falando sobre os conflitos que ele via em casa ao longo do seu desenvolvimento e da inquietação em que ele se transformou, da inquietação que ele é.

Eu sou meio que uma inquietação. É difícil de explicar, e queria ser mais inquieta quanto aos questionamentos políticos e filosóficos.

Pensando cá com meus botões... meu ambiente é bem parecido com o dele. E sempre busquei superar esses conflitos, apesar de pouquíssimos serem relacionados a minha pessoa (como creio que tenha sido com ele), passar por cima e não deixar isso me afetar. Apesar de acreditar que podia ter feito melhor, acho que até fiz de uma forma boa, não excelente, mas boa, a tarefa de não permitir que me atrapalhasse, que me impedisse. Podia ter me afetado mais. E, mesmo sem querer, buscava ter experiências sociais, não me render ao costume que ali se estabeleceu: de viver sempre na superfície, na rotina estressante, no distanciamento social, familiar, de amigos. Mas observei que me tornei reprimida, reprimida em sentir alegria em situações por causa de um problema externo, um problema com outros que me cercavam, um horário marcado e a minha incapacidade (ainda) de aproveitar um momento por causa da aparente infelicidade de uma pessoa que queria deixar os outros infelizes também (se era de propósito ou não, não sei, mas conseguia deixar o ânimo na camada do pré-sal e, infelizmente, não era só o meu).

Hoje, perto daquele rio, apesar do calor, perto de uma vegetação agradável, não sentia aqui dentro a felicidade que pensei que sentiria. Pelo contrário, parece que depende da felicidade de outra pessoa, o que não acontece agora... Se o rio e o efêmero vento àquela altura me fariam bem eu creio que sim, mas mesmo que seja um engano é impossível você passar por situações e ao menos alguma não lhe fazer sorrir intensamente por dentro.

A questão é que demorei muito buscando coisas que eu gostasse e me fizesse sentir alegria, satisfação, essas coisas. Eu sei de algumas, porém, notei que sempre vem essa sensação de comportas se fechando dentro de mim, às vezes se abrindo e derramando tudo. Portas se trancando e apertando alguma coisa que tava aqui, de intruso. Me acostumei a carregar essa repressão.

Quando meus botões e engrenagens decidem entrar em parafuso é sempre aqui que externava pra vê se fazia sentido. Muitos eram meio inúteis e foram pro ralo. Esse aqui pode ir também, todavia, por enquanto, faz sentido.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Parênteses para o silêncio

Você precisa cultivar a habilidade de ser só você mesmo e não estar fazendo alguma coisa. É isso que os telefones estão marando, a habilidade de só ficar sentado fazendo nada. Isso é ser uma pessoa. Porque por baixo de tudo na sua vida, tem aquela coisa - aquele vazio eterno. Aquela desconfiança de que nada vale a pena e você está sozinho. E às vezes quando as coisas ficam calmas, você não tá esperto, tá no carro, e aí você começa a perceber 'Ahhh não, lá vem. A solidão'. Essa coisa chega, essa tristeza. A vida é triste demais, só estar nela... e é por isso que a gente dirige enquanto manda mensagem de texto. Praticamente 100% das pessoas hoje usam o celular enquanto dirigem, as pessoas estão se matando com seus carros, mas elas assumem o risco de tirar uma vida e arriscar a própria vida porque não querem ficar sozinhas por nem um segundo, porque é difícil demais. [...]
É que, porque a gente não quer aquela pequena tristeza, a gente a empurra pra baixo do tapete com um celular, ou comida, ou masturbação. A gente não se permite mais sentir-se extremamente triste, ou extremamente feliz, você meio que só se sente satisfeito com seu produto, e morre.
Fonte: Revista Galileu 

A gente tem duas opções (talvez três): encarar os momentos de tristeza, alegria e tudo o que vier (obviamente dentro da saúde psíquica), o que pode ser ajudado pela talvez terceira opção que também pode ser parte da segunda: carregar um sorriso no rosto nos momentos mais complicados. E esse sorriso, que "eis a questão", pode não ser essencialmente viver tais momentos, e a lógica é sentir cada instante para ser mais, digamos, humano.

E depois de um tempo você cansa de suportar, você tem medo de não mais aguentar aquelas horas de percepção do quanto somos pequenos, do quanto tudo pode dar errado e podemos perder tudo, do quanto gastamos tempo com algo que não gostamos ou o quanto as coisas não nos satisfazem e falta algo eternamente mesmo que seja só a vontade e a coragem. Ou do quanto as pessoas fazem você se sentir dessa forma. Aí a música fica triste, o filme fica triste, o livro fica sem gosto. É quando você se perde com um sorriso pra confortar até chegar na segunda opção: deixar de viver isso e passar por cima. E empurrar com a barriga os minutos do relógio, os dias, e tapar buracos mais fundos com pouco...

Insisto em acreditar no equilíbrio (e que existe algo dentro de nós que pode nos salvar, como pessoas). Perdoem a minha divagação.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ofereça um sorriso

Existe um diferencial nas muitas pessoas que enfrentam as tantas dificuldades que o universo lhe ofertou: um sorriso no rosto.

Ninguém falou que seria fácil, que não haveriam mudanças, discussões, dias tristes, pessoas com atitudes que lhe deixassem mal, tardes agoniantes, conflitos internos, entre tantos outros. Nenhum ser transcendental veio avisar que seria perfeito, integralmente tranquilo, e bom, e leve.

A leveza de conduzir cada dia de uma forma agradável - e mesmo que não possa solucionar todo o problema, mas fazer uma ação por menor que seja em prol da solução - transforma uma vida. Um sorriso no rosto torna todo esse período tão curto algo mais aproveitado.

Sonhos são leves, não pesam nas costas e nos dão asas para ver além do agora e além dos problemas. Ter quem você ama, quem lhe faz bem, por perto e ver essas pessoas felizes não tem preço, é um alívio imenso. Um sorriso pra alguém, um bom dia, uma comida para quem passa fome, uma palavra de conforto à quem precisa ou simplesmente ceder os ouvidos e a atenção. Ter ideais, ser firme à eles sem ser extremo. Possuir valores, educação, respeito e vontade de realizar seus sonhos. Tudo isso, aliado a um bom sorriso, um humor que alegre o ambiente, que afaste a tensão (mas mantenha as nuvens de chuva, porque chuva é amor) torna a vida mais leve.

Pessoas amáveis - educadas, gentis, que buscam a paz e o equilíbrio - tornam o mundo mais leve.

E leveza nos permite sorrir, e sorrir nos permite sonhar, o que nos permite viver e nos permite aproveitar todos os momentos e fazer acontecer o que acreditamos ser o melhor. Nos permite ser. Sonhar sentada de uma cadeira no meio de uma entre as muitas tempestades que estão listadas ao longo da vida é difícil, mas é o que nos transmite tranquilidade, nos faz racionalizar, sentir o equilíbrio e ser alguém melhor.

Ouça seu coração, corra atrás dos seus sonhos, acredite em você, cultive boas relações, colecione bons momentos, aprenda com os ruins, sorria e seja leve.

(Inspiração: o sorriso dessa menina - Aceita um chá? - e o meu que uma vez tornou o dia de alguém melhor).

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A responsabilidade de preencher os dias - ou carpe diem

A vida em si é melancólica e triste. Nascemos com uma caneta e uma folha sem número de linhas e extensão determinada onde temos que escrevê-la. Nos tornamos depois dos primeiros anos responsáveis por preencher todo esse período, que pode ser tanto entediante quanto uma montanha-russa ou ainda um festival na praia com tudo o que tem direito.

Uma noite de frente pro mar sentindo a brisa, ouvindo o som das ondas e vendo as estrelas e a lua: uma coisa a preencher.

Enfrentar a morte de alguém querido ou um problema de saúde: uma coisa que queríamos esquecer para sempre e muitas vezes nesses momentos desejamos não ter nascido.

Mas existem pequenos períodos que não são tão extremos assim, nos perseguem sempre e tem a mesma importância: os dias comuns. Aquele dia, teoricamente "como qualquer outro", em que você tinha apenas a escola ou o trabalho, as pendências para estudar, os filhos esperando atenção. Alguns instantes queremos apenas ir àquela praia e nos encontrar conosco e preencher com mais que rotinas e situações de ápice - que podem não ser tantas - ou de vale, mas vivendo um dia de cada vez como todos devem ser vividos: intensa, integra e sinceramente.

Vendo todos os dias com a mesma proporção, no sentido de aproveitá-lo - e ao mesmo tempo fazer algo para projetos futuros, sem se prender somente nem ao presente nem ao depois - podemos enxergar uma extensão maior, ainda mais se ver como uma sequência só, não divididas nos mínimos segundos e dias. O DIA é algo tão delimitado, entardeceres e amanheceres são como linhas de corte.

Preencher esse espaço que agora parece tão longo e possível de ser completado com tantas coisas parece uma tarefa difícil demais e que nos transmite toda a responsabilidade de fazer acontecer, sem ser possível somente reclamar das faltas culpando outros. E por isso tantas são as vezes em que vivemos dias em função de sonhos que, quando se realizam, não os deixam mais felizes. É você quem ajusta a luz do modo que deseja, é você que escolhe o que comer, onde dormir, o que fazer. E, felizmente, é você quem escolhe o que fazer da vida. Mas o que raios fazer da vida? pra sentir pulsar em si e se sentir vivo, completo, ou mesmo nos vazios que aparecem por aí mas sentir que é você ali.

PS.: Passamos todo um período escolhendo uma profissão sendo que o sentido está além dessa simples escolha (ao mesmo tempo que está intimamente ligado à ela). Está nas pessoas, nas convivências, nas realizações pessoais. Há um infinito no nosso interior a ser construído, explorado, e é ele a nossa vida.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"big neeeerds"

Você assiste a um filme de um super herói de HQ, se interessa pela história, deseja ler os quadrinhos. Aí vem um nerd lhe dizer que você não é digno o suficiente porque conheceu a história por um filme que ficou famoso quando na verdade não ainda não buscou mais da história.

Estou falando daquelas pessoas que se acham superiores porque entendem de algo. Acham que todo o seu conhecimento sobre determinada coisa é íntegro, completo e que ninguém chega ao seu nível. Observando pelas histórias que eu tenho conhecimento é possível entender que, na maioria das vezes, você sabe mais detalhes que quem acabou de conhecê-la. Todavia, isso não faz com que o outro não possa também saber. A cultura foi feita para ser expandida, explorada, não pra ficar restrita a um pequeno grupo.

Tenho como exemplo Star Wars. Conhecida, adorada por muitos. Action figures, filmes, livros, tem de tudo sobre a história. O Senhor dos Anéis, obra enorme de Tolkien, um gênio que criou todo um mundo adorável. São obras de fantasia, de ficção, que conheci a pouco tempo. Sei muito menos que a maioria dos que as aclamam, mas isso não me torna menos admiradora do trabalho de quem as desenvolveu. Isso indica que não tive contato antes, que existem pessoas que conheceram cedo e tem isso como parte de si e entendo. Contudo, não torna a obra propriedade delas. Já vi pessoas mais velhas se encantarem com Harry Potter apesar de não terem lido na época do auge gostaram bastante...

A cultura existe para ser parte de nós, parte de cada pessoa que a admira. O nível a que isso vai chegar depende de cada um, mas não quer dizer que só goste quem sabe tudo. Nem todos são tão nerds assim, ou ao menos ainda não, e isso não os torna menor, se gostaram genuinamente. Não há um teste para mostrar quem gosta mais ou menos, cada um gosta do seu jeito e toma aquilo de formas diferentes, alguns como parte da vida, não importando em qual parte dela está.

domingo, 18 de outubro de 2015

Poente

O peito queima
arde
se faz cinza viva
respira exposto
vencido de viver
molhado, encharcado
transbordando em lágrimas
pela simples existência
pela mera falta
de alguma coisa
enquanto se tem o necessário
enquanto se falta o inimaginável
na espera eterna do viver pleno
inatingível
nessa atmosfera
que me atordoa, me enche
e me faz seguir em frente
por um motivo bom, como soa o som
daquela velha música que nunca se tornará abuso
e preenche a cada dia
o mesmo vazio que insiste
em se abrir da descostura
que fazemos a cada adormecer
e seguramos a cada nascer do sol.

sábado, 22 de agosto de 2015

Livros, música e pequenas coisas

Um dos melhores canais de uma pessoa adorável que fala sobre literatura da forma mais querida. No vídeo de cinco anos do TINY Little ThInGs (o que já tem alguns anos) tem essa música, que se tornou uma pequena coisa que causa aquela agonia do passar do tempo ao mesmo instante em que ainda parece haver tempo o suficiente para mergulhar de cabeça e apreciar mais da literatura e do que ela lê. 







...amor em forma de canal, de pessoa e de música. Não é aniversário do canal - ainda, só próximo mês - mas coisa boa é sempre bom comemorar e lembrar, então que tenha ainda muitos outros anos de vídeos e mais livros para algum dia eu ler concomitantemente à ela ou ler e ver aquele vídeo de 2011 sobre a obra.

https://instagram.com/p/5kUZ-yoDfv/

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Conjugação do ser

Na ânsia de ser tu foste outro senão ele
a quem relatou seus medos e descreveu
as trilhas dos teus sonhos, foste tu
e não tu que querias as mais altas montanhas
os mais longíquos bosques com as mais largas copas
que te abrigassem, e falaste à eles aquilo que nem tu sabias,
mas foste aquilo a sombra sem ser que recebesse a luz do sol
na tarde mais iluminada, e que esteve presente

No desespero de gritar que tu estavas lá
e que, por favor, olhem pra mim
tu espirraste suposições, conjugações e trechos
mais intrínsecos e obscuros
e abstratos que só existem com teu ser
mas que tu espalhaste
e deixaste se perder com o vento

não sorrias pras folhas antes delas nascerem
nem te delicias com o canto dos pássaros antes deles começarem sua sinfonia
esquece os significados dos versos
e compreende o que tu consideras essencial pra ti

apenas

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Amarras

Nós mesmos nos aprisionamos.

Delimitamos nossas capacidades, nossos almejamentos, até mesmo nossa vontade fica abalada pela perspectiva de quão longe está ou quão difícil será. E o cansaço de cada dia, dos seus trabalhos, complementa isso.

Nos limitamos, impomos correntes e passamos o cadeado: pras nossas ideais, pros nossos tempos livres, pra nossa imaginação. E assim levamos com a barriga toda uma vida de empurrões. De começos sem um término concreto ou simplesmente sem uma conclusão significativa. Fica ali, pairando entre as milhares de ideias, de planejamentos, de aprisionamentos estabelecidos em áreas onde poderiam não ocorrer. Ou de vontades descartadas na sua lixeira aí ao lado.

São tantas metades inacabadas.

São tantas história começadas, rascunhos nas gavetas, no caderno, na alma. Ausência de objetivos completos que completem a você. Que o façam acordar todos os dias, calçar os chinelos e escrever a redação do jornal do dia ou atender seus poucos pacientes que pagam uma fortuna pela sua consulta. Cada qual com seus meios, seus receios, sua poesia de vida. Ou cada qual com a falta dela com valores que incluem o super-consumismo, o autoflagelamento ou o abandonamento de si mesmo.

Alguém em uma escrivaninha escreve entre o abstrato e o concreto pra mostrar que ambos se complementam e que o que faz as calçadas, os carros e o seu dinheiro, ou seja, a sua realidade, é abstrato e só existe porque algo concreto cedeu lugar à poesia de desenhar com linhas imaginárias o sentido mais real pra cada detalhe que passa pelo seu dia.

Sem título

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Explosão

Ela desejava ter nascido quando liam-se as letras das músicas nos encartes dos CD's e não pelo vagalume ou pelo letras. Quando liam ou encontravam amigos pessalmente ao invés de fazer amizade com pessoas virtuais que vivem distante de você. "Vou ali na casa do..."

É bom conhecer mais do que um pequeno círculo limitado pela região onde você se encontra. É bom ter acesso á informações. Mas ela queria experimentar viver quando liam o jornal em papel. Quando conversavam mais face a face do que por mensagens que lotam seus minutos. E os outros não entendiam que ela queria, mas não daquela forma: queria lhes falar sobre os últimos filmes que assistiu e saber como estava, mas não tão distante - a menos que você esteja distante.

Ela começou a perceber quanto o tempo estava sendo queimado como chamas sobre combustível. O quanto voava e cada segundo era tudo, tão precioso. E a guria estava certa, é mesmo. Mas para ser vivido e não empurrado com a barriga por aquela sua dor de cabeça insistente que vem desde a semana passada. Ou pelas determinações de planejamentos que nunca saem do papel mas visam sustentar a si.

Ela explodiu em fibras que escondiam o que ali estava oculto. Todos seus medos e anseios que não eram revelados nem pra pessoa mais próxima. As vontades de fazer coisas que nunca fez seja por qual motivo for. Suas dores inúteis voaram e as necessárias ficaram pra ela ter um incentivo nessa luta que encontra contra si mesma onde ser ela mesma era um problema a ser resolvido com uma boa dose de palavras duras, falta de compreensão e falta de si mesma em um sistema de robôs.

Ela queria algo que nem a mesma sabia ao certo. Mas sabia o que não queria. E sentia alguma imaginação se transformando em lágrima. A menina cansou e foi se deitar pra ver se a dor passava e no dia seguinte recomeçar tudo de novo, tão perdida quanto no dia anterior, entre leões.

sábado, 18 de julho de 2015

A melancolia de Viktor Frankenstein

Livro: Frankenstein | Autora: Mary Shelley

Ponho-me a escrever nesta tarde sobre o livro "Frankenstein", de Mary Shelley, o qual nos mostra até onde vai a curiosidade de uma pessoa, e mais ainda aonde os seus objetivos podem levar. Não que eles levem à um lugar ruim ou arruinador sempre (como os de Viktor Frankenstein o levaram) mas que, mesmo o que parecia impossível e inacreditável, ele conseguiu realizar. É uma obra que deixa perguntas e lembra a seguinte frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" (O Pequeno Príncipe), o que pode ser percebido pela culpa que Viktor se impõe, sabendo que foi resultado de suas mãos o monstro que cometera tamanhas atrocidades.

Sobre tal criatura, podemos ressaltar a sua dupla personalidade e sua história. Como a própria diz, poderia viver longe de todos e deixá-los em paz se lhe fosse concedido o que desejava; não sendo, iria se vingar e foi exatamente o que fez. Quanto ao seu criador, tinha todas as oportunidades e formas de ter uma ótima vida, não havia tragédias nem consigo nem com sua família, até a criação ser finalizada. Contudo, consolidou certo dia um tremendo erro, fazendo aquilo que seria a causa do seu infortúnio até seus últimos dias de vida, mergulhando-se em enorme melancolia e estado depressivo, vendo seus amigos e familiares mortos pelo resultado de seu próprio trabalho, de sua própria curiosidade. É realmente atormentador.

Há um ponto intrigante: sendo o Frankenstein feito com a base humana, como reprodução de uma vida, então as pessoas podem ser boas ou más dependendo de quem lhes atrapalha? Dependendo de suas vontades serem realizadas ou não? Dependendo dos seus conceitos quanto ao dever que o outro tem consigo? São perguntas que ficam no ar pelo livro. Minha interpretação e hipótese é: o Frankenstein foi uma criação na forma bruta. Precisaria viver, como ele mesmo disse, não possuiu uma infância, uma família, os primeiros contatos, não construiu uma personalidade. É um estado puro, como um diamante bruto, como qualquer objeto que não foi preparado, e é isso que o ser humano pode ser, é isso que o ser humano é na sua essência inicial. A diferença, tamanha diferença, entre um ser humano e a criatura quanto a isso é que esse estado bruto inicia-se na infância, nos primeiros meses e anos, onde se vai aprendendo, com as experiências iniciais e principalmente por toda a adolescência. É aí o foco e a consolidação de toda formação base do caráter e de si. Para Frankenstein, seu pedido não sendo aceito, ele tinha todo o direito de infernizar até o último dia a vida de seu criador, mesmo alegando, no final, ter feito com o coração partido e machucado, e tendo sentido mais que o próprio, sofredor de todas as desgraças.

Uma tentativa de reproduzir um humano que fracassou. Mesmo conseguindo estabelecer uma linha de pensamento, sendo lógico, não usou a razão para pensar e seguiu na maioria das vezes seus instintos.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Citando - Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

"choro mudo sem som algum até para ela mesma,"

"pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte,"

''mas nada se passara dizível em palavras escritas ou faladas,"

"- queria poder continuar a vê-lo, mas sem precisar tão violentamente dele."

"Encontrar na figura exterior os ecos da figura interna:"

"um corpo é menos que o pensamento [...] sua condição pequena não a deixaria fazer uso da liberdade."

"uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de"

"Talvez fossem os seus 'apesar de' que, [...] cheios de angústia e de sentimento de si própria, a estivessem levando a construir pouco a pouco uma vida."

"A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano."

"Há uma maçonaria de silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras."

"Só com Ulisses viera aprender que não se podia cortar a dor - senão se sofreria o tempo todo."

"que ela queria morrer talvez ainda toda inteira para a eternidade tê-la toda."

Coisas estão sendo empilhadas, armazenadas, ocupando espaço onde deveria haver apenas o essencial. Álbuns musicais demais, listas e mais listas de livros pra ler/comprar, filmes, séries... coisas demais que um dia defini como "necessário" porque achei que fosse. E talvez não sejam.

Não há um padrão pras coisas. Muito menos eleição de melhor ou pior, exceto por pessoas com criticidade aguçada, que é o que almejamos. Todavia, vamos pelo gosto, pelo momento, pela vontade. e, também, pela razão de achar que aquilo pode ser bom. Tomo como parâmetro pessoas e a partir delas as infinitas listas se fazem, mas não precisa ser feito/lido/visto tudo e muito menos até o final do mês.

Quantos livros já gostei - mesmo dos poucos lidos - porque achei que fosse interessante. Às vezes é preciso fazer um esforço, mas não em todos os momentos. Conhece e vai um tanto por ti: eu acho que vai ser bom? beleza. Acho que é mais ou menos, mas pode valer a pena? vou ao menos tentar. Acho que não me apetece, mesmo que só agora? deixa quieto. Um dia pode ser bom e antecipar isso forçadamente pode prejudicar a experiência.

Tudo isso é pra ter a sensação de respirar tranquilamente ouvindo aquela música que você gosta sem precisar ficar lembrando de todos os discos de todas as bandas. Ler o livro que está na sua mesa e assistir às suas séries, filmes, animes, por querer acompanhar a história com a mesma vontade com que pessoas acompanham religiosamente suas novelas de cada dia ou o jogo do domingo. Saber o nome dos personagens ou da rua ou o nome do álbum é parte do processo. Fazer a escolha conscientemente, se é entretenimento ou vai acrescentar algo a mais, e aproveitá-la é a causa.

becoming jane



quinta-feira, 16 de julho de 2015

Paredes descascadas


Meu mundo, seu mundo. De um lado uma parede, no vértice imperfeito o encontro de submundos. De existências inexistentes na eterna antítese recorrente pelo "mero" bater do coração, impulsos nervosos, respiração. Um todo, um único organismo a vagar perpetuando suas inconstâncias que palavras simples e aquelas que simples-mente saem pelos poros da epiderme. Bambo entre a realidade e sua doce e cruel ficção. Entre seus preciosos e suas alucinações. Entre uma deliciosa comida, companhia, e a entrega ás aspas, aos colchetes, aos detalhes das suas "pequenas" coisas, dos seus amores, da poesia não combinada; ou ao ponto final, apesar da subjetividade em tudo (pobre ponto),

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Olhos de ressaca

Livro: Dom Casmurro | Autor: Machado de Assis

Pelo que se sabe por alto sobre a história, é que Betinho acredita que Capitu o traiu. E que isso não é respondido no livro. E eis a grande questão.

Dom Casmurro conta o romance de Bento Santiago, o Bentinho, e Capitolina, mais conhecida como Capitu. Relata a relação deles desde a infância até um determinado momento de suas vidas. A mãe de Bentinho fez uma promessa de dar um sacerdote à Deus caso seu segundo filho nascesse. Juntamente à isso, José Dias, o agregado, suspeita de Bentinho e Capitu. Assim começa o tormento primeiro de Bento, enquanto ainda jovem, com seus quinze anos, tanto por parte da denúncia de José Dias, quanto por ele ir para o seminário, o que não deseja.

Bentinho vai para o seminário, com uma promessa entre ele e Capitu: que hão de casar somente um com o outro; e, felizmente, o mesmo consegue se livrar da promessa da mãe: era dar um sacerdote, que não necessariamente precisaria ser Bentinho, mas qualquer outro. Assim, faz-se feliz a ele, a Capitu, a própria mãe, e aos próximos como José Dias e seu grande amigo Escobar.
Durante todo o livro há momentos em que ele desconfia da Capitolina. Porém, o tão comentado ciúme só vem pelas últimas páginas.

Minhas considerações:
O próprio Bentinho acha que existe algo entre ele e a esposa de Escobar. Ele afirma que seu filho, Ezequiel, não é seu mas sim de Escobar devido à enorme semelhança. Mas no início do livro comenta-se a semelhança de Capitu com a mãe da esposa de Escobar, a Sancha, e não há relação de traição para terem sido parecidas. Primeiramente achei ser alucinação de sua cabeça. Mas depois de, no próprio livro, ele relembrar a semelhança da mãe de Sancha e Capitu, ficou meio perdido se foi mesmo traição ou não. Mas, a propósito, não me pareceu ser.

PS.: A série que a Globo fez inspirada nessa obra literária possui uma incrível música da banda Beirut chamada Elephant Gun.

domingo, 5 de julho de 2015

Metamorfoseando

Livro: A Metamorfose | Autor: Franz Kafka

"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado numa espécie monstruosa de inseto."


Assim começa o primeiro capítulo de A Metamorfose, livro tão aclamado do Franz Kafka. Gregor Samsa acorda certo dia em forma de um monstruoso inseto. Aprisionado em um corpo que não era o seu, com limitações e dúvidas do que havia acontecido. Tal fato muda toda a dinâmica da família pois seu pai, já aposentado e com dificuldade de se locomover precisa recomeçar a trabalhar e sua irmã também, juntamente da mãe. E, admito, até pouco tempo após terminar a leitura não sabia qual era o motivo pelo qual a história tinha tanto reconhecimento até que me deparei com a sinopse da edição (a comemorativa de 100 anos da publicação original): "Sua obra literária [se refere à Kafka] é marcada essencialmente por romances e contos e que destacam o homem angustiado, obrigado a levar uma vida aprisionada: o homem desesperado em relação à própria existência." É o relato de um aprisionamento metafórico que o força a sair dos seus costumes e sentir como é estar apenas ligado a si mesmo, não a um corpo, não ao seu trabalho. Ligado à algo novo que nem ele sabe o que é, sendo forçado a sair da sua rotina ocupada focada no sustento da família e no futuro da sua irmã.


A forma como os membros da família lidam com o acontecido é diferente e não sei dizer se é assustador ou como era de se esperar. A irmã continua o considerando como irmão e é quem cuida dele. A mãe fica a beira de um ataque de nervos (e uma hora tem um) e o pai passa a impressão de não ter mais filho, principalmente quando consegue trabalhar e é como se não precisasse mais do sustento do filho, então ali ele havia morrido pra ele. Após um tempo é como se ele deixasse de existir. Desde o início Gregor, já metamorfoseado, é tratado com espanto e escondido, trancafiado.

Podemos analisar, ainda, a forma como uma mudança pode trazer consequências. No caso Gregor se transforma em um inseto monstruoso, mas se colocarmos outras mudanças que ocorrem ao longo da vida, como se a pessoa saísse do seu aprisionamento. O metamorfose pode ser vista tanto como um aprisionamento em que ele se coloca ao se transformar quanto uma libertação quando isso acontece.

Há no youtube uma adaptação que, a propósito, deixa muito estranha a representação do Gregor, que aparece com feições humanas e sem sequer uma crosta em suas costas. Por isso, algumas imagens definem melhor o ambiente (que, nelas, é mais estranho do que imaginei):



Eis a questão: quando Gregor morre na história? Pra quem já leu, eu especifiquei três momentos possíveis de ter sido a morte dele: quando se transforma em inseto, quando começa a agir como um, ou após o acontecimento do final do livro?

Falar sobre esse livro ao olhar as imagens é embrulhar o estômago.

Fonte das imagens (na sequência):
1: http://publicamente.org/2015/02/25/a-metamorfose-de-franz-kafka/
2: http://www.posfacio.com.br/2011/07/03/meia-palavra-explica-a-metamorfose/
3: http://www.laparola.com.br/a-metamorfose-de-franz-kafka-a-realidade-social-contemporanea

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Jornais e a sensação de impotência

Observando os noticiários que passam na televisão "aberta" notei que todos os dias possuem a mesma linhagem: mostrar acidentes, mortes, assaltos, estupros, violência verbal.

O Fantástico, da Globo, era um dos meus programas preferidos quando criança. Passavam reportagens interessantes, falavam de música (apesar de ser mainstream), filmes, e principalmente pesquisas que fizeram. Até esse programa, hoje, usa dos casos de violência para chamar seu público: acontece um fato na semana, os noticiários todos falam dele como se fosse o único no mundo e, no domingo, "matéria exclusiva do Fantástico sobre o traficante mais procurado do país", "cobertura completa sobre a morte de fulano", "todas as informações a respeito da violência no país". Não queremos dados de quantos morreram em cada jornal do dia, queremos os dados, o porquê, e como melhorar a situação.


Incomoda muito, e isso deveria ser à toda a população, que esses programas não atinjam pontos cruciais como educação, saúde, transporte, segurança, de forma mais direta, mais objetiva, apontando os problemas da base, as causas, as consequências, a responsabilidade. A emissora tem capacidade de fazer um estudo mais profundo e reduzir a uma reportagem que abranja grande parte da população. Ninguém quer saber o roteiro da vida do traficante mais procurado, queremos saber como anda a educação no país não apenas em números mas em qualidade. Queremos saber quem é o responsável por isso porque muitos ainda não sabem, é o governo municipal? Até onde o governo federal e estadual tem responsabilidade sobre a segurança da cidade? O enfoque deveria ser esse. Todavia, a população quer ver a violência para ficar pasma na frente da TV e dizer "'tá vendo para onde estamos indo? Isso é culpa dos pais que não educam, que dão liberdade demais, é culpa desses governantes que não prestam, política não presta".

Tem certeza que política não presta? O que seria de um país com a extensão do Brasil sem um sistema de governo? Todos iriam querer ser superior a todos e sabemos que opinião humana é diversa. Venceriam os que teriam mais poder aquisitivo. Opa, é quase isso que acontece hoje.

Por que os jornais e programas informativos não falam sobre o contexto das coisas. Tudo é visto superficialmente, o fim e não os meios. Maquiavel não estava tão correto assim, os meios justificam os fins, e nós não vemos os meios, apenas o resultado repetidas vezes, com as mesmas frases, o mesmo roteiro, chamando a atenção para a morte. A falta de presença dos pais hoje nas casas e na educação dos filhos vem de um contexto da entrada da mulher no mercado de trabalho. A educação dos filhos não é estática e não deve ser definida por como era 30 anos atrás. O mundo muda, o homem evolui (ou deveria), e a sociedade o acompanha. A tecnologia e o modo de convívio social também se alteram, e é isso que nos move. Somos movidos pela mudança, pela evolução, pela ânsia por novos caminhos, por melhorias, e junto à isso muitas coisas mudam, como a mídia.

Além disso, o enfoque é sempre nas piores coisas: na violência, nos acidentes. Contudo, a maioria das pessoas que atravessa a rua não é atropelada, a maioria das mulheres que saem todos os dias para trabalhar, estudar ou ir à balada não são estupradas, a maioria das crianças que vão para a casa do amigo não é estuprado(a) também, apesar dos índices serem altos. Ver todos os dias as mesmas histórias apenas com personagens diferentes só nos torna mais tristes e fechados para o mundo, um ambiente que é nosso. Não queremos saber como o mundo está violento, isso nós já sabemos, queremos saber é como mudar isso. Justamente o que a televisão não mostra com a mesma frequência que relata os fatos. Com tanta notícia que nos faz ficar em casa e não colocar o pé na calçada, o que ainda nos faz viver?

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Defina saudade

No balanço do ônibus e nas lágrimas que escorrem copiosamente do vazio ou da ânsia. Pelos instantes de amor e aquela vista que a pouco me atingia e agora é saudade. Poderia retornar e passar horas ali. Poderia retornar e passar o tempo que fosse disponível em cima daquele morro, com a companhia agradável, observando o céu, a vegetação, a forma que o solo possui e que as rochas desenhando na paisagem. Poderia misturar a ficção da literatura e a realidade de ser vivo, de nascer de alma nua e se corromper tristemente aos poucos. Ainda há amor e saudade. Quero subir novamente essa serra, real e tão metafórica, e gritar expressando tudo o que guardamos por medo, receio, opressão; e mergulhar novamente na cachoeira de lágrimas que escorrem dos meus olhos enquanto meu mar se agita. Enquanto minha memória suga de seus arquivos as imagens daqueles rápidos instantes onde conhecimento e deslumbramento se confundiram em sentimentos tão fortes. Onde pode haver sentido em todo o Universo ao ver de tão perto registros históricos, ao sentir o vento forte em meu rosto no alto e ao relembrar pessoas que foram tão importantes.

A propósito, o Parque Nacional Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, interior do estado do Piauí, vale muito a pena ser visitado. Pra quê parque de diversão se você tem guias que te explicam parte da pré-história, ver de perto registros históricos - pinturas rupestres e passar por locais onde um dia, apesar da mudança sofrida pela natureza local, homens primatas passaram. Além de tudo isso ainda tem o Museu do Homem Americano onde tem expostos fósseis humanos - nossos ancestrais de tão perto. Obrigada, Niéde Guidon.
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Parque Nacional Serra da Capivara PI/Brasil

Museu do Homem Americano - PI/Brasil

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Parque Nacional Serra da Capivara PI/BR

Parque Nacional Serra da Capivara PI/BR

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Vista

ela tinha medo de aparecer
optou por se esconder

por guardar no fundo da gaveta
os rabiscos de textos
poesias
timidez e vergonha

e as poucas fotos
a pouca coragem de tê-las ali
na vitrine

até que os papéis aparecem
e as imagens discretamente se tornam figuras do álbum
de figurinhas
jogado na cabeceira da cama
misturando devaneio
a realidade emocionante
e um toque de ironia

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Por que tanto preconceito, minha gente

Tem preconceito contra pessoas de raças consideradas inferiores, culturas diferentes e até detalhes da vida da pessoa como faculdade, profissão, vestimentas e... tatuagens, por exemplo. É tanto julgamento que me perco em palavras ofensivas, xingamentos (rudes) e olhares grotescos que queimam até o alma da pessoa, coitada.

A questão é que julgamento é uma coisa comum e faz parte do nosso senso crítico. Se não fazemos um julgamento prévio sobre algo ou alguém é porque apenas aceitamos como a pessoa é sem analisar. Em alguns casos isso é bom, mas de um modo geral precisamos da criticidade para alguns momentos e é ela que nos define. É com base na nossa formação, nos nossos preceitos e na nossa opinião sobre o que é bom, bonito, saudável, que analisamos o outro e definimos para nós, dentro do nosso "padrão", o que ele ou ela é.

Todavia, até para quem trabalha com argumentação e precisa defender uma opinião é preciso respeitar o outro. Aí entra o que distingue e torna saudável o processo de observar. Julgar pode ser tanto sentenciar quanto analisar criticamente. Trata-se de um ato saudável quando consiste em analisar com criticidade algo ou alguém mas sem sentenciar se aquilo é o errado ou o certo, o bonito ou o feio, mas respeitar que aquela é a sua opinião, sabendo que ela tem o direito de ser transmitida mas desde que não ofenda ou determine algo como se fosse uma verdade. É difícil conviver entre pessoas tão distintas de nós, mas é necessário.

domingo, 21 de junho de 2015

Sufoco amargo

Hoje eu poderia
fugir para o topo
da mais alta montanha
E por lá ficar
até congelar
os órgãos
a tristeza destruir o estômago
a mente já tão perturbada
agradecer para se livrar
desse cérebro, desse corpo
cheio de expectativas
cobertas de larvas
de esperança
apagadas
de dias queimados
na fogueira
compensados
agora pelo frio
que invadiu as muralhas de pedra
que apagou a chama interior
Não há esperança? Esvaiu
não há luta
não agora
contra essa dor
física, metafórica
que machuca
e afeta
transforma
uma chama em uma pedra de gelo
e carrega minha pessoa
para essa montanha
flutuo.
Só hoje.
Não sei mais o que fazer
com tal sentimento
tão significativamente podre
e presente
de agonia
e sufoco
isso não cabe mais em mim
e é necessário muito isolamento
para morrer em silêncio
a cada instante
sem esperança
sem ideias
realizadas
apenas rodeadas
de medíocres
"Confesso mesmo que, de minha parte, andei até meio podre de um lado, mas é justamente deste lado do fruto já meio comido de passarinho é que se está mais próximo da semente" Fernando Sabino
publicação original órbita paralela

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Homo sapiens sapiens

Pensa no contexto humano
Observa uma vez sequer a Terra de longe e nos imagina como uma sociedade evoluída, como animais que pensam
Analisa os jornais e vê o tanto de pessoas violentas e que sugam a vida e a liberdade dos outros a ponto de tu não poder sair de casa pra ser feliz.
Atiça esse teu cérebro e tua mente pra pensar no que é felicidade pra ti: aquela taça de sorvete, boas companhias, ficar sozinho?

Resultado: animais racionais buscando construir impérios de papel e uma felicidade talvez nunca alcançada de dentro do seu enclausuramento e das grades construídas por si ou por outrem. Exatamente.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Surreal

O tempo
não acaba amanhã
A noite
não acaba logo
A tempestade
não passa após o vento
e suas grossas gotas de chuva
Após os devaneios, a consciência
do Agora, do Nada
deuses dessa mente
insana e real
desse sono
que não me permite dormir
e persegue
mal trata
torna incoerente
o futuro incerto e perdido
equivocado e vivido
no surreal
da loucura

publicação original órbita paralela

Quimera

E mascaramos
A nós
Acobertamos as angústias
Antes de sabermos
Até quando as eternas
Durarão
Antes de escolhermos
O que ser
O que fazer
Quando e porquê prosseguir
Quando e porquê cessar
Arrastando as correntes
Na hipotética esperança
de, quem sabe, algum
dia
encontrar a tal chave
perdida
em algum momento, esquecida
abandonada sem mesmo
tomarmos conhecimento
de sua ilusória existência
Assim como meu ser
que vaga pelas ruas
nas madrugadas perdidas
Enquanto o corpo mortal
descansa
em seu casulo eterno

publicação original órbita paralela

Delírio

O ópio
Em um instante de
Utopia
Ou talvez não
Um mero respirar profundo
Enquanto falta o ar
E as mãos deslizam
Afastando as moléculas
E criando um redemoinho
De acordo com o ritmo
Em jatos suscetivos
De realidade
E devaneio

publicação original órbita paralela

domingo, 31 de maio de 2015

Passagens

Sem título
Fonte: Flickr Jacinta Moore
Momentos passam, pessoas vão embora, se escondem, dão tchau, adeus. A todo instante me preparo para saber que o que acontece pode não passar de uma tarde, uma noite, um instante de satisfação, de sentir seu lado humano no aperto no peito, na conversa franca implícita em um olhar.

Aquele entardecer perto de quem faz bem passa. As pessoas que fazem bem passam. E é indesejável para qualquer ser que viva sabendo que as coisas vão e vem, que as pessoas podem não ficar, porque é nessa situação que elas realmente podem não ficar e há sempre a dúvida: e depois.

E depois é só eu e você, ou seja, eu e meu eu interior, se esse também não procurar uma outra floresta para habitar, outras árvores onde repousar, outro chão de terra úmida e frestas tímidas de sol pelas copas das árvores.

Queria eu poder eternizar momentos, registrar em uma bela foto no ângulo perfeito, na iluminação ideal e natural, com as pessoas - humanas - como são mas como me queiram e, assim, ter uma visão de um depois. Ter mais palavras, mais histórias, mais de um pouco de tudo, apesar das saudades impossíveis de serem solucionadas, mas ser mais humano que costumes de dizer até logo sendo quase um adeus. Mais do mesmo, mais do novo que seja mais que novo. Mais do simples, todavia, intenso. Mais de tudo que seja passível de um "mais".

domingo, 24 de maio de 2015

Senhora, José de Alencar

Com retratos da sociedade  e a relação entre seus membros, José de Alencar nos leva aos costumes de uma época e principalmente à relação entre amor e dinheiro que ocorria (simbolizada na imagem de capa da edição da editora Ática).

O livro é dividido em quatro partes.  Basicamente: na primeira vamos conhecer uma moça órfã e rica que tenta conseguir o homem que ama com seu dinheiro, esta é  Aurélia, além da negociação do valor do matrimônio; e um jovem que mora com a mãe e suas irmãs em um local bem retratado como: simples por fora e nos móveis, mas com detalhes de importância social e/ou grande valor financeiro pertencentes ao tal rapaz: Seixas. Na parte dois vamos conhecer a origem de Aurélia, e como ela conheceu o tal Seixas, até chegar na situação retratada na parte um. Chega, também, o momento do casamento e um acontecimento na "câmara nupcial" que vai definir a história a partir daí, até que chegue as últimas páginas. Na terceira e na quarta se passa o que seria a vida de casados de Aurélia e Seixas, mas com um determinado conflito e um grande toque de orgulho e mal entendido.

Aurélia ficou órfã de pai, este que era casado escondido com sua mãe devido a seu pai, colocando-os em uma situação difícil. O irmão da moça começa a trabalhar para ajudar nas despesas juntamente das costuras que elas faziam, e já aí Aurélia mostrou ter, de certa forma, autonomia e uma facilidade para lidar com negócios. Certo dia, ela estava na janela, como a mãe havia pedido, para que a vissem e quiçá um casamento surgisse para ajudar financeiramente a família. Assim, ela conhece Seixas e até chegam a combinarem de se casar, com a mãe dela, mas ele não tinha condições de manter uma "mulher da sociedade", o que ele a tornaria, e ainda seus luxos pessoais. Já que ela não tinha o que oferecer e ele que iria ajudá-los. Assim, lhe chega uma oferta de um dote de Adelaide, que ele aceita sem pensar muito, e seu casamento com Aurélia é cancelado. O que ela já esperava, pois a insistência do casamento foi por parte da mãe, e para ela apenas ter o amor de Seixas bastava. O próprio autor cita, que Aurélia vivia de seus sonhos e idealizações, não do Seixas real, e isso bastava para ela.
- Se eu tivesse a desgraça de perdê-la, minha mãe, sua filha já não ficaria só. Teria para ampará-la além de sua lembrança, um amor que não a abandonará nunca. (pág 101)
- A sua promessa de casamento o está afligindo, Fernando; eu lha restituo. A mim basta-me o seu amor, já lho disse uma vez; desde que mo deu, não lhe pedi nada mais. (pág. 105)

Primeira parte: boa.
Segunda parte: muito boa.
Terceira e Quarta: regular.
Na primeira nos é apresentado uma situação de "compra" de marido. O poder que o dinheiro exercia, que levou em muitos momentos ao orgulho e à humilhação. Já conhecemos a Aurélia após ficar rica, que não era muito diferente do que ela realmente era. Na seguinte nos foi contada a origem, desde o romance dos pais de Aurélia até o momento do pedido de casamento de Seixas, e de sua mudança para um que lhe oferecia um dote considerado bom até aquele momento, que cobriria suas necessidades e seus luxos, sendo esta a que mais gostei justamente por contar a história, esclarecendo a primeira parte, tanto que ficou a vontade de voltar e reler a inicial para ver se não passou nada sem entendimento. Porém, os dois últimos mantiveram a convivência pós casamento, onde ela era a dona e ele o "marido mercadoria", posição a qual ele mesmo se submetera devido a uma reação que ela esperava mas não teve, e a forma como ela agiu me incomodou bastante. Aurélia até tinha me chamado a atenção no início, como já disse, pela autonomia que vi nela, mesmo que esteja ligada diretamente à essa idealização e à ela viver do que criava em sua mente, mas passava que sabia lidar com os acontecimentos, de forma a viver de seus sonhos e criações, até chegar no que veio depois do casamento, e que mostrou que houve uma confusão entre os dois.

Mas de um todo o livro possui seu valor, seus retratos de costumes sociais daquele momento, uma história bem fundamentada, com parágrafos bem trabalhados onde a cada um as palavras eram utilizadas de uma forma a envolver o leitor em uma relação um tanto conturbada.

***
Por isso mesmo considerava ela o ouro um vil metal que rebaixava os homens; e no íntimo sentia-se profundamente humilhada pensando que para toda essa gente que a cercava, ela, a sua pessoa, não merecia uma só das bajulações que tributavam a cada um de seus mil contos de réis. (pág. 21)
[...] Para nascer é preciso dinheiro, e para morrer ainda mais dinheiro. Os ricos alugam os seus capitais; os pobres alugam-se a si, enquanto não se vendem de uma vez, salvo o direito do estelionato. (pág. 54)