quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Um fim de luta em meio à confusão

Vou engolindo a vida
Tentando sentir seu gosto
Mas esse gosto é de interesse
de desistências
Temo já não saber
E parece que, assim,
Estou vendo como ela funciona
E desce
Goela abaixo
Como uma avalanche a rolar
E atinge o estômago
Ou evapora
Há tanto para se dizer
E o sono se foi
Ainda sinto?
E sentir tem mesmo importância?
Porque não parece
Nunca senti
Apenas escondi
Me escondi
De ir em frente
De mim mesma
Da luta diária
De ser você
E estar com você
E buscar, entender, fazer
Acontecer
E agora, com uma fresta de luz escrevo
O que ninguém entende
Na tentativa
De achar respostas...
E esses tamanhos costumes e crenças
que insistem em serem usadas para impedir
e lutar? Ainda tem algum sentido?
Talvez as palavras
Que escrevo
Possam trazer alguma tranquilidade
Para dormir
E sonhar com os anjos...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Escondido

Será possível existir alguém
Sem frescuras
Sem firulas
Que não complique
Simplifique
Que abra para mim não a porta, mas uma janela para permitir a brisa entrar, sem cobranças desnecessárias. Sem ciúmes inocentes. Permitindo ser, estar, compartilhar e libertando a essência de cada ser ali presente, não trancafiando-a, não delimitando-a. Mas descobrindo o que pode haver de bom quando os problemas são reduzidos pela capacidade racional humana de resolvê-los serenamente.
Talvez exista
Escondido
Em algum canto
Esquecido
Será que nos cruzaremos, na rua, em caminho contrários, na mesma busca, de essência, competência de fazer valer a existência
E perceberemos que a vida pode ser tão boa quanto

Em companhias
Onde tudo isso e muito mais
Se realize
Além da utopia
Antes da distopia do senso comum

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Extremos e enganos

Criticar é diferente das imagens difundidas pelos cartunistas que morreram e da mídia que foi atingida. Tais atitudes da revista/jornal tem a mesma origem dos atentados terroristas: a ideia de "nós estamos certos, vocês não, e podemos ofender - seja com palavras ou com matança - o outro". Criticar não é ofender, é usar argumentos plausíveis em prol do bem estar de todos, sabendo respeitas as diferenças.

A mídia, toda sensacionalista que é, exalta a dita liberdade de expressão e critica os atentados terroristas. Tantas pessoas, muito provavelmente influenciadas pelas mesmas, vão às ruas levantando a bandeira "somos todos Charlie", defendendo fortemente as imagens produzidas e as ideias dos cartunistas. Porém, esses últimos tiveram atitudes próximas às dos terroristas que praticaram os atentados. Usaram da ofensa, da sátira e de piadas fortes e desrespeitosas para dizer que as religiões estão erradas. Usaram de meios hostis, e não de crítica, para defender sua ideia. A crítica é constituída de argumentos, de um foco a ser analisado e pensado, formando opiniões com base em ideias e ideais, de forma a manter o bem estar e a serenidade nas relações entre os povos, e a paz mundial.

Assim, ambos agiram erroneamente. Praticar atentados e matar pessoas, obviamente, é erradíssimo e um atentado não só às pessoas que estavam ali mas a paz em todo o mundo, e nada justifica tais atitudes, mas não é possível defender totalmente o jornal a respeito das "críticas" e sátiras feitas por ele pois usaram da hostilidade para atingir pessoas por sua escolha religiosa.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quem sabe um dia

Então você vai lá e cria mais uma página em determinada rede social.

Existe uma para músicas, filmes, livros, para interagir com outros, para armazenar fotos, outras onde tudo isto se reúne e até uma para organizar a lista de redes sociais. Interessantes? Talvez até sim. necessárias? Nem sempre.

Vendo sequências de ideias, de opiniões, de conteúdos a respeito penso para onde estamos indo, qual o "fim" de tudo isso. Como estamos usando nosso tempo? O que toda essa correria tecnológica pode trazer? Claro que os desenvolvimentos nessa área são muito úteis, máquinas utilizadas na medicina, exames mais sofisticados, uma aproximação das pessoas que estão distantes de onde você está. Aproximação; internet; aproxima os que estão distantes e distancia os que estão próximos? É o que parece. Porque está se tornando tão difícil viver desconectado? Qual o "grande lance", o segredo, o conteúdo? Boa pergunta, qual o conteúdo.

Em alguns momentos vemos pessoas defendendo a utilização do tempo em atividades que tragam benefícios como assunto, conhecimento, "bagagem cultural" (mas não dessa "indústria cultura" que vem em pacotinhos e a todo momento); algumas que criticam o que é considerado fútil por muitos. E ainda aqueles que não possuem nenhuma opinião ruim de quem dedica tempo a ambas as partes. A qual delas estamos dedicando mais?

Estamos mesmo aproveitando o que construímos (digo nós, seres humanos) para nosso benefício? Sim. E para nos prejudicar? Parece que também. Cadê o "tempo" para ler, a dedicação, a atenção para realizar tal atividade? E porque está difícil?

É preciso ter o carro do ano, ou trocar o seu a cada ano que passa. É, mas quem dera que o transporte público fosse bom o suficiente para não se precisar ter um carro... temos que cuidar dos nossos interesses, das nossas necessidades, do "nosso mundo". É preciso ter o tipo de celular que todos tem, e não é pela genialidade de quem fez, desenvolveu, estudou para colocar tudo naquele aparelhinho pequeno mas que carrega quase o mundo (na verdade é quase um mundo, virtual). Como já disse Steve Jobs a respeito da sua área:
As pessoas acham que é a aparência - que os desenvolvedores recebem uma caixa e ouvem: 'Torne-a bonita!' Não é assim que consideramos o design. Não apenas como a aparência e a sensação. O design é o funcionamento.
Inovação não tem nada a ver com quantos dólares se dedica a pesquisa e o desenvolvimento. Quando a Apple apareceu com o Mac, a IBM estava gastando pelo menos cem vezes mais em pesquisa e desenvolvimento. Não tem nada a ver com dinheiro. Tem a ver com as pessoas que temos, como nos conduzimos e quanto entendemos do assunto.
Nosso objetivo é fazer os melhores aparelhos do mundo, não ser os maiores.
Viver, percorrer esse intervalo de existência, não é se deliciar com um pacote de salgadinho assistindo à novela enquanto seu celular apita com mais de 100 mensagens de uma vez e consome uma lata aquele refrigerante que todos sabemos qual é, onde nos é passada a impressão de que a cada dia a necessidade por mais e mais atenção dos outros, "amizades", aumenta. Sentar todos os domingos para ver a toda a programação das grandes emissoras, que nós sabemos como é uma "praga", você "sem querer" senta para assistir, seja pelo local onde está, e fica lá vendo aquela sequência de besteiras, literalmente besteira porque a televisão no domingo a tarde é uma briga, uma emissora concorre com a outra para ver qual a pior... Mas entendo quem faz isso. Quem busca se refugiar em dietas desesperadas, em roupas novas, lançamentos de carros, celulares, marcas, móveis, e veja só, até livros populares e campeões de vendas! É uma outra realidade. Viver está muito sem graça não é? Não se pode nem sair tranquilo sem correr aquele risco de ser assaltado. Quem sabe queimado dentro de um ônibus.

E não me excluo, apesar de não gostar de algumas dessas coisas. Mas perceber é o primeiro passo. Basta observar que se vê, o problema não está nos aparelhos, até porque foram feitos por nós, mas está na forma como é utilizado. Na forma como está impregnado principalmente nos mais novos. Mas, quem sabe, com um esforçosinho seja mais fácil dedicar mais tempo a uns bons livos, a bons assuntos, conhecimentos, a estudar, a passear, a bons filmes, boas séries. Seja possível conversar mais com quem você quer, conviver mais pessoalmente.

A tecnologia não é nada. O importante é ter fé nas pessoas, acreditar que são essencialmente boas e inteligentes e, que se lhe dermos as ferramentas, elas farão coisas maravilhosas.
Ps.: Citações retiradas do livro "Steve Jobs em 250 frases".

Lentamente

Escrever é sangrar
É se conhecer
Se descobrir
Percorrer caminhos
Viver por outros meios
Lapidar
Às palavras, à nós
Em meio a tantos começos
Não prosseguidos
Na profunda inércia
Da escrita

domingo, 11 de janeiro de 2015

Sentidos da vida

Certo que muitos dias acordamos sem saber qual o sentido das nossas vidas, para qual rumo estamos indo e muito menos para qual direção queremos ir. Quando se é criança é mais fácil, pois a todo instante somos guiados: tem que ir para a escola, estudar, comer frutas, verduras e legumes. Depois do período inicial/rebelde da adolescência, ou ela quase inteira, onde na maior parte do tempo reclamamos, estudamos para as provas, vamos à escola, etc.; vem aquele período "não sou mais adolescente, mas também não sou adulto" e é hora de escolher ao menos um resquício de direção, para acordar pelo menos na maior parte dos dias sabendo o que quer e, com planejamento, o que fazer. Mas será que não existe um sentido para viver, um motivo, ou objetivos de vida que não sejam "escrever um livro", "ter um filho", "lecionar", "abrir o próprio negócio", "passar na universidade", " fazer um doutorado", "comprar minha casa/apartamento", "morar fora do país", "casar", e todos os que tenho a leve impressão de estarem virando clichês? Escolher uma direção, mesmo que por vontade própria e fugindo dos padrões "medicina/engenharia/direito/emprego fixo/terno", parece algo forçado, porém a única forma de viver, porque não ter um sentido é de enlouquecer qualquer um.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Alguém

Então imaginei nós dois. Porque quando pensamos em gostar de alguém, a primeira coisa que vem em mente são duas pessoas com sentimentos mútuos. Como deve ser bom usar palavras no plural, tanto quanto é no singular - sem deixá-lo de lado. Nesse instante de crença em algo delicado e impreciso, imagino sorrisos, músicas, brincadeiras. A leveza de conversas, de uma convivência tranqüila, sem pesos, sem cobranças. Com você, que não sei quem é, nem onde está, mas que talvez exista. Que não é perfeito, como imaginado pela maioria. Que não seja mais que o meu todo, e está perdido em alguma parte do planeta. Talvez só seja alguém, não se sabe quem. Sem utopias, sem grandes expectativas, sem regras e teorias limitadas. Apenas uma doce, leve e real convivência.

Amigos

Existem momentos em que dá aquela saudade dos amigos, das brincadeiras, das piadas internas, dos momentos em que estiveram juntos, hoje não tendo a certeza de se ainda estarão da mesma forma, e a certeza de que daqui um tempo pode não ser a mesma coisa. A sensação de perceber que você pode considerar bastante muitos deles, mas nem todos consideram você de volta. Simplesmente a saudade da convivência com pessoas adoráveis, apesar dos defeitos, que lhe aceitam como é, fazem piadas sobre você que soam engraçadas e não ofensivas e compartilham dos sorrisos naturais, espontâneos, reais. Amigos são uma família.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Novo ano, reciclagem

Nesse profundo vazio, o ano começa. Começa trazendo a expressão facial sem reação, a voz dizendo para não esperar muito das pessoas, que nesse mundo são poucos os que estão com você. Essa voz querendo ser ouvida: ela sou eu. A cada recomeço é como se os anteriores fossem apagados, e restassem apenas os destroços que utilizo para ser o que sou hoje, afinal, tudo é questão de evolução. Implicitamente isso se repetia a cada recomeço, seja de ano, seja de mudanças no meio do semestre. Ano novo, vida nova (ou não). O mesmo indivíduo, cercado pelas mesmas pessoas, porém seguindo seu curso natural (ou que deveria ser natural para todos): evoluir. E crescer para melhor.

Ano novo, vida nova (ou não). Não quero criar expectativas, apenas na maciota ir levando, fazendo gradativamente minha história nessa História da humanidade tão porca, com tantos poucos exemplos. Apesar disso, todos temos lados bons e ruins, não existe mocinho e vilão, existem seres humanos.

Nesse ano que começa, apesar das dores de cabeça por essa enxaqueca que "me mata", hoje aos dezessete, paro para ver o que sou nessa sociedade, nessa família, e, principalmente, para mim. As divisões da vida em fases parecem tão próximas agora, como uma só viagem de um trem-bala. Os dias, em sua especificidade, são tão lentos, porém depois que passa parece que foi tudo tão rápido. E eu, toda louca e torta, sempre quis aproveitar cada segundo para não me arrepender depois. Acabei aqui, estressada e ansiosa, por uma desilusão de que não dá para aproveitar cada instante como queremos e que as pessoas, ou a sociedade as fazem assim, deixam passar, simplesmente.

Nesse ano, quero quebrar paradigmas, e observar os que já foram quebrados. Fui a boa aluna, uma das poucas da classe que lia os paradidáticos passados (todos), mas isso nunca me impediu de ter amigos. No fundamental nunca precisei estudar mais que uns dias antes das provas. Fazia planejamentos e mais planejamentos nos primeiros anos do médio, tentava estudar todos os conteúdos, até o último semestre.

Sim, gosto muito de analisar o tempo.

E hoje observo o que fui. Sem vergonha do que já gostei, do que já escolhi e fiz. Entalhando a minha base da ampulheta (entre a ampulheta e a base, fico com a base), aprendi que não precisamos memorizar tudo que gostamos, basta fazer: ler, assistir, ouvir, comer; e entender o que a faz se sentir bem. Que as pessoas nem sempre vão te apoiar, e devemos conciliar os sentimentos ou as ligações familiares com a nossa vida, afinal, eles coexistem no primeiro lugar de importância. Percebi que não existem dias perfeitos e que é melhor ter algumas metas, mas pensadas, e dois dias médios do que um ótimo e um horrível. Que não é possível me definir em um texto, ou em coisas que gosto. Somos complexos, e só anos para se aproximar da nossa semente. Que as pessoas ou os cantores/artistas (no sentido real da palavra, não no que as mídias televisivas pregam: quem tem glamour, riqueza financeira, casa exorbitante e bom emprego na Globo), não são possuídos quando dançam daquele modo que consideram estranho e demoníaco, ou fazem batidas diferentes e pesadas e letras pensadas. Eles apenas sentem, o que esses robôs cheio de regras e normas não tem, sentimentos.

Quero desconstruir Amélia, viver em Alasca, encontrar Anakin (não o Vader) e ter os olhos certos para enxergar nessa podridão, com uma carga de falta de expectativas, espaço para buscar sentido na existência. Um dia de cada vez, na maciota.

A que tinha vergonha de se assumir como pessoa e usar os verbos em primeira pessoa, por ser apenas uma mera adolescente. Mas isso estava errado. Somos feitos de evolução, as divisões servem apenas superficialmente. Existem adultos que nunca saíram dos catorze, e adolescente que possuem mais de trinta mentalmente e em atitudes.

Nessa delimitação do tempo que se inicia, quero reciclar-me. Analisar as composições até hoje, as dificuldades, as relações, e começar a solidificação do meu ser.

Nesse novo ano, quero apenas ser eu. E quando desejar me ver longe de mim mesma, não permitir.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Esculpir

É preciso utilizar todas as sensações existentes nesse pequeno corpo perante a galáxia para produzir. Senti necessidade de produzir algo, ou simplesmente a noção de que é necessário sair da zona de conforto. Mais um ano acaba e leio textos a respeito dessa transição, na esperança de um dia poder escrever sobre o ano que acaba dizendo que houveram tropeços, mas que consegui não me curvar à eles e reerguer-me para chegar no resultado esperado, ou ao menos muito bom e próximo do almejado.

Insegurança, angústia, são coisas que nos cercam, e devem continuar cercando. Erros, tropeços, atitudes que queremos mudar, rondam os meses, já que gostamos de colocar os grãos de areia do tempo em um vidrinho fechado, o qual não admiro tanto quanto a madeira que é usada em sua base. Depois de um breve período escrevendo somente em versos, de recomeços, renascimentos, reconhecimentos, hoje não tenho vergonha de dizer "eu". Usar a primeira pessoa. Conciliar o recato com o ser e mostrar o que é.

Apesar do tempo sem escrever aqui, os escritos se tornaram mais escassos por buscar que sejam mais sinceros, verdadeiros, não impulsos e desabafos jogados à deriva, poluindo o mundo. Porém, escritos vem sendo produzidos em outros meios. 

Apesar de tudo, ainda há um longo caminho, longas depressões e montanhas a passar. Muito o que construir, e superar, sendo uma coisa essencial: o interior.

Estamos eternamente em constante construção. Borrachas, por favor. E um toque de consciência, porque de ontem pouco lembro do que era. Mas não seria o que tento ser hoje sem. De grão em grão, de pedaço em pedaço a base da ampulheta que segura esse tempo se forma, eterna enquanto efêmera.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O admirador

(2013)
Chego em casa cansada de mais um dia, e encantada com a beleza da cidade após o anoitecer. Tomo o banho da noite, preparo meu café e sento-me à minha escrivaninha. Há muito o que arrumar, há muito o que produzir, há muito o que preciso viver através de lugares que podem nem existir, e palavras, objetos, detalhes descritíveis, perceptíveis, encantadores, simplesmente apaixonantes. À esquerda, a coleção de textos bem separados: de outros autores, meus: para terminar, para publicar, para iniciar. À direita uns livros "empilhadinhos", e no centro uma caneta tinteiro próxima à xícara. O ambiente mais que perfeito. Juntando alguns papéis, comecei a escrever.

Foi em um dia claro, estava eu fazendo o percurso de todos os dias quando deparei-me com tamanha beleza em uma jovem só, não sorridente, mas de aparência meiga e angelical.
Após alguns minutos observando-a, eu, todo desajeitado, simples, e um rosto não muito agradável (admito ser feio), resolvi me aproximar. Assim deu para notar a bela cor dos seus olhos, um castanho escuro intenso como a forma como me olhava, a pele branca porém não incomodava aos olhos, e uns cabelos castanhos bem escuros de uma sedosidade inigualável, completada por algumas mechas intrometidas e vermelhas.
Começamos a conversar e com uma rapidez imperceptível, contou-me que não segue a nenhuma religião e gosta de ir à exposições de arte. Costuma frequentar algumas lanchonetes específicas e acredita que muitas coisas ainda podem se resolver através de uma conversa, e mesmo que algumas palavras soassem frias, pelos olhos dela pude perceber seu calor.
O diálogo fluiu bem à ponto de não percebermos o anoitecer se aproximar e fui para casa pensando naquele rostinho, naqueles cabelos, e principalmente naquele olhar encantador. Fui descrever em palavras para um dia contar aos nosso filhos, ou talvez apenas para guardar para mim tais lembranças. Julho passou com toda velocidade possível, e nem por um dia deu para esquecer aquele encontro. Aquelas palavras pronunciadas, tão certas como o dia e a noite, desfilando preenchendo nós dois.
Tão breve é um momento, e tão breve somos nós, nossa alma tem fome e sede assim como o corpo, porém nem todos a saciam... Ali estava meu futuro, independente dos fatores, e vi o tempo levá-lo. Porque assim como o vento leva as folhas, o tempo faz questão de levar as nossas vidas. No dia em que nos conhecemos, mesmo apenas uma vez nos falando, senti o que minha alma queria, porém não tive coragem para agarrar. E às vezes, oportunidades passam sem nos dá tempo para parar para pensar. Agir sem pensar pode ser perigoso, porém se há um músculo involuntário tentando lhe dizer algo (porque acredito que ele diz) é interessante tentar viver ouvindo e pensando sobre. Voltei ao local pela milésima vez, na esperança de encontrá-la. Analisei e reconheci todos os detalhes, porém vê-la acompanhada e com um bebê, foi suficiente para me fazer voltar para minhas paredes, uma cozinha e uma sala, e me achar o maior estúpido do mundo a esperar por uma desconhecida. A morte veio subitamente, após horas agonizando, fechei os olhos com a face dela em minha mente.

O café acabou, porém a história pareceu continuar sem um fim exato e marcante. O que é comum. Por isso tão poucos ocupando a seção dos concluídos. Porque é mais simples preencher, nem que seja com palavras bobas, que acabá-lo de vez. Ainda pensando se realmente estava bom, apenas resolvi aceitar essa historinha, sendo ela mais um brinquedo meu de esconde-esconde. Quebrado, mas sendo.
Olhei no relógio. 21h40. Ainda cedo para afogar-me no sono, portanto me voltei aos instintos e desejos escondidos, e resolvi continuar a história apenas pensando enquanto andava pelas ruas. Pensando que aquele bebê poderia ser seu sobrinho, e o homem seu irmão.