terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Então é isso

Depois de muito tempo sem saber o que escrever, seja que coisa for, produzindo apenas textos pra graduação, preocupada com coerência e com estrutura, finalmente consegui sentar e escrever algo aqui.
E parece que é só isso. Sempre tive uma ligação muito forte com livros, histórias, palavras. Quando criança tinha muito prazer em ler os livros paradidáticos que a escola constantemente passava para lermos e trocarmos com os demais. Quando conheci os livros da série Noite Eterna foi um amor. Aproveitava o tempo antes de levantar para ir à escola para ler algumas páginas. Simplesmente lia. E dessas histórias ficaram algumas que me marcaram muito, das quais ainda guardo algumas recordações. São confortáveis, são parte da minha história pessoal. 
Durante toda a adolescência escrevi. Curiosa, buscando assuntos diversos para aprender, decidi que ia procurar o sentido pra tudo isso na minha formação. E nisso me dediquei a conhecer mais histórias, mais curiosidades. Começou a se formar a pequena estante que eu já tinha, com livros e revistas - oi, Superinteressante e a matéria do impacto da oração (era isso?) observada biologicamente. Mas estou distante e ler não é mais algo constante, apesar de ter um livro em específico nesse meio tempo que se tornou um amor. E isso é parte do quão perdida estou. Buscar curiosidades não é mais um hábito. Cansada.
Desde sempre escrever era parte minha, uma maneira de me encontrar em mim. Era a minha forma de lidar com tudo o que acontecia, de me entender e de conectar o que se passava aqui com o externo. Então surgiu o Rumo às Colinas. Muitos escritos que foram pro lixo - coisa da qual não me arrependo. Alguns anos depois, sem ter um nome, surgiu esse aqui, quando decidi recomeçar. Senti a necessidade de me buscar. Precisava. Passei a escrever talvez de forma mais abstrata e com mais cuidado. Terminei meu namoro de mais de dois anos. Rasguei todo o caderno e apaguei o blog. Hoje olho pra tudo isso e consigo encarar tudo o que passou. Precisava recomeçar mais leve.
(Agora entendo que meu distanciamento social tinha um motivo, com o qual lido até hoje...).
E assim foram surgindo alguns escritos aqui. Alguns colaborativos em outro blog - longa história - que transferi pra cá. Mais atenta, pensando mais, sentindo menos. Comecei a escrever não tanto sobre meus sentimentos. Comecei a ver as coisas de outra forma.
Nos últimos três anos estava imersa numa situação que me consumia e aos poucos estava me perdendo em mim, de mim. Ainda estou. Mas, apesar disso e da escrita ser uma forma de organizar as ideias, sinto que esses espaço se tornou uma arquivo, que não me pertence tanto a ponto de escrever sempre. Talvez vez ou outra ainda surja algo aqui, só talvez. Talvez conseguisse ajustar o que mudou em mim com uma escrita condizente, mas por enquanto está em um hiato. Seja porque fujo de pensar das coisas, seja porque simplesmente não consigo mais escrever sobre elas ou apenas porque passou e não sei se ainda consigo ver o mundo da mesma forma.
Enquanto isso fico aqui, perdida e observando.
E finalmente consegui vir aqui e escrever tudo isso, em primeira pessoa (coisa que quase nunca faço), pra falar que houveram algumas mudanças e pro meu bem ou não, não consigo mais escrever tanto. Parte do silêncio no qual estou imersa e do qual aos poucos estou tentando sair. Parte do hiato que preciso.
Então, é isso.
Vamos começar de novo, um passo por vez.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Através

minhas curvas
pelas quais escorrem as lágrimas
líricas e antigas
esqueceram como é percorrer
as linhas no tempo e as horas
e não mais encontraram as incoerências
esqueceram onde estavam as folhas
vivências percorridas
tocadas com as pontas dos dedos
preenchendo com notas as pautas, sem perceber
escorrendo gotas de sangue dos poros
e fechando os olhos para rever as janelas
nas tantas vidas que teve
procurando nas pilhas sobre a mesa
aquela última frase

domingo, 26 de março de 2017

Sufoco e morte

As folhas já não são mais preenchidas, os pensamentos insistem em não existir e uma simples frase não consegue ser formulada mentalmente. Olha-se para a janela e, através dela, para o vazio existente antes somente lá fora e agora também aqui dentro.

As canetas não saem mais do seu local de origem e, quando saem, tem de voltar rapidamente. Não há um caderno bagunçando essa ordem porque está sendo usado para rascunhar um texto como esse.

A palavra é a vida e sem ela me sufoco. A escrita foi a maneira de respirar na bolha física em que estive por tanto tempo. E quando finalmente foi possível não apenas olhar pela janela mas sair pela porta - com chave e tudo - acabo dias consecutivos aqui, sentada, olhando pela mesma janela. Mais incoerente, menos corajosa, mais confusa e perdida por não estar perdida o suficiente. Foram os textos lidos, a vontade de fazer e de mudar e a coragem para expressar, ao menos em textos imaturos, aquilo que fazia casa nos seus conturbados pensamentos.

O passado não foi perfeito. Nada é perfeito exceto alguns milésimos dentre todos os anos em que habitamos esse planeta. Apesar disso, só desejo sentir novamente aquela sensação no peito - não o aperto e a angústia - de liberar palavras ordenadas - ou não - em uma página em branco, ter um diálogo não orientado apenas pelo outro, derramar uma ou duas lágrimas e às oito da manhã do dia seguinte olhar para o nascer do sol e pensar: "Existem coisas que nos preenchem. Existem mundos dentro desse no qual vivo. E isso tudo ainda vale a pena. Posso fazer do meu jeito. Posso ser alguém apesar de tudo o que existiu, existe ou ainda pode existir ao meu redor."

quarta-feira, 8 de março de 2017

SER - sobre o oito de março

Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Não porque ela menstrua todos os meses, acorda mais cedo para se maquiar e cuidar de si ou do filho, por andar com salto quinze ou por cuidar da casa, dos filhos e ainda ter uma carreira profissional - isso não é motivo de elogio se ela tiver com quem dividir essas tarefas, mas arcar com tudo sozinha.

Ser mulher vai muito além de ter características e comportamentos vistos como femininos. É além de ser carinhosa e sensível, isso todos nós, seja de qual sexo for, podemos ser. Ser mulher é ser uma pessoa como todas as outras. É ser capaz: de crescer, de conquistar, de lutar cada dia por algo que deseja, de cuidar de quem ama, de cultivar boas relações e suportar os problemas. Existem dores piores que uma cólica mensal. É ser dona de si  - o que cada pessoa é, seja ela do sexo masculino ou feminino. É ter a capacidade de decisão na sua vida, do corte de cabelo à escolha de ter ou não filho.

Ser mulher não é ser apenas o biológico. Somos evoluídos o suficiente para não viver em torno do nosso lado animal. Então, não é ter seios ou menstruar. Não é - somente - ter curvas. É SER. Ser como qualquer outro ser humano. 8 de março existe para se lembrar que as diferenças biológicas não são determinantes nas nossas relações, que somos mais que isso. Esse dia existe para nos lembrar que somos todas e todos capazes e, por isso, iguais. Hoje celebramos a busca pela igualdade. Não queremos ser superiores a ninguém, não queremos inverter a situação e dominar. Só queremos o que é justo: que sejamos vistas como todos os demais.

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Então, por favor, parem de comemorar esse dia nos parabenizando por coisas supérfluas como a maquiagem que usamos ou nosso ciclo menstrual. Não é por isso que esse dia existe. Ela pode não usar salto alto, pode ter um problema e não menstruar, pode não ser tão vaidosa. Mas é tão humana quanto todas as demais. É tão mulher quanta todas as demais. Somos mais que os rótulos que utilizam para nos definir.

Nós somos capazes. Sejamos nós as responsáveis por nós mesmas.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Fora do cobertor

Na chuva, ao redor da fogueira
Danço para o vento enquanto
Essas gotas me alagam
E me permitem transparecer, crua
Além de todo o encanto do fluir
Do som das gotas
Do cheiro de molhado
E deixam na pele
A sensação do esvoaçar ao se desfazer em movimento
Esse vento que envolve a mim em um abraço
Na direção do silêncio, agindo
Como uma manta
Mesmo na atmosfera das palavras encobertas
Pelos versos curtos
Ambíguos
Registrados na última folha, não lida
Até mesmo no prefácio pulado
Quando as gotas se foram, só passaram
E me deixaram aqui
No incerto abraço