sexta-feira, 26 de junho de 2015

Jornais e a sensação de impotência

Observando os noticiários que passam na televisão "aberta" notei que todos os dias possuem a mesma linhagem: mostrar acidentes, mortes, assaltos, estupros, violência verbal.

O Fantástico, da Globo, era um dos meus programas preferidos quando criança. Passavam reportagens interessantes, falavam de música (apesar de ser mainstream), filmes, e principalmente pesquisas que fizeram. Até esse programa, hoje, usa dos casos de violência para chamar seu público: acontece um fato na semana, os noticiários todos falam dele como se fosse o único no mundo e, no domingo, "matéria exclusiva do Fantástico sobre o traficante mais procurado do país", "cobertura completa sobre a morte de fulano", "todas as informações a respeito da violência no país". Não queremos dados de quantos morreram em cada jornal do dia, queremos os dados, o porquê, e como melhorar a situação.


Incomoda muito, e isso deveria ser à toda a população, que esses programas não atinjam pontos cruciais como educação, saúde, transporte, segurança, de forma mais direta, mais objetiva, apontando os problemas da base, as causas, as consequências, a responsabilidade. A emissora tem capacidade de fazer um estudo mais profundo e reduzir a uma reportagem que abranja grande parte da população. Ninguém quer saber o roteiro da vida do traficante mais procurado, queremos saber como anda a educação no país não apenas em números mas em qualidade. Queremos saber quem é o responsável por isso porque muitos ainda não sabem, é o governo municipal? Até onde o governo federal e estadual tem responsabilidade sobre a segurança da cidade? O enfoque deveria ser esse. Todavia, a população quer ver a violência para ficar pasma na frente da TV e dizer "'tá vendo para onde estamos indo? Isso é culpa dos pais que não educam, que dão liberdade demais, é culpa desses governantes que não prestam, política não presta".

Tem certeza que política não presta? O que seria de um país com a extensão do Brasil sem um sistema de governo? Todos iriam querer ser superior a todos e sabemos que opinião humana é diversa. Venceriam os que teriam mais poder aquisitivo. Opa, é quase isso que acontece hoje.

Por que os jornais e programas informativos não falam sobre o contexto das coisas. Tudo é visto superficialmente, o fim e não os meios. Maquiavel não estava tão correto assim, os meios justificam os fins, e nós não vemos os meios, apenas o resultado repetidas vezes, com as mesmas frases, o mesmo roteiro, chamando a atenção para a morte. A falta de presença dos pais hoje nas casas e na educação dos filhos vem de um contexto da entrada da mulher no mercado de trabalho. A educação dos filhos não é estática e não deve ser definida por como era 30 anos atrás. O mundo muda, o homem evolui (ou deveria), e a sociedade o acompanha. A tecnologia e o modo de convívio social também se alteram, e é isso que nos move. Somos movidos pela mudança, pela evolução, pela ânsia por novos caminhos, por melhorias, e junto à isso muitas coisas mudam, como a mídia.

Além disso, o enfoque é sempre nas piores coisas: na violência, nos acidentes. Contudo, a maioria das pessoas que atravessa a rua não é atropelada, a maioria das mulheres que saem todos os dias para trabalhar, estudar ou ir à balada não são estupradas, a maioria das crianças que vão para a casa do amigo não é estuprado(a) também, apesar dos índices serem altos. Ver todos os dias as mesmas histórias apenas com personagens diferentes só nos torna mais tristes e fechados para o mundo, um ambiente que é nosso. Não queremos saber como o mundo está violento, isso nós já sabemos, queremos saber é como mudar isso. Justamente o que a televisão não mostra com a mesma frequência que relata os fatos. Com tanta notícia que nos faz ficar em casa e não colocar o pé na calçada, o que ainda nos faz viver?

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